domingo, 26 de dezembro de 2010

E eu ali


E eu ali.
Enquanto todos, tudo.
Eu, nada.

E eu ali.
As luzes vibrando,
as folhas balançando ao som do vento de início de verão.

E eu ali. O mundo girando, os carros passando.
E eu ali.
Se é Sorte ou Azar, eis o que iremos nos mostrar.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Todos passam


Todos passam.
Seus rostos nêutros,
sem medo, sem ternura, sem coragem
nem maquiagem.
Passam, não deixam rastros. A má vontade,
ou a boa vontade,
apenas não passam de falta de vontade. De falta de descanço.
Cansa.
Estão cansados, seus olhos quase fechados.
Seus passos: cansados.
Todos passam.
A vida passa.
É a vida.

Todos passam,
sem vida. Exaustos,
estão cansados do dia,
estão cansados da vida,
estão sorrindo. Estão exaustos,
e o dia, enfim, termina.
Os sorrisos são tristes, estão tristes.
Ou apenas cansados, e cansados seguem ao lar.
Lar do canto do amor sem dor, sem pranto, do canto
insassiado. A comida está sem sal.
Até a cerveja gelada lhe faz mal. Que mal?
É o tal.

Mas todos ainda passam, não param de passar
até que eu mesmo não pare de passar
pelos passantes da rua da qual o ângulo
me parece tão distante.
Da rua da qual a normalidade é séria
e os risonhos são loucos!
Mas a normalidade está doente,
cansada.
Os insanos são normais que apenas deixaram
a desejar e desejaram o indesejável. Agora
apenas sorriem para afastar os maus agouros
da vida.
Os normais: insanos.
Ou apenas estão cansados.

Eles pararam de passar

domingo, 12 de dezembro de 2010

Estava tudo tão calmo!


Estava tudo tão calmo! A rede apenas balançava, o vento apenas deslizava, as pessoas apenas conversavam as suas conversas levianas e cheias de tão pouco significado - pois era divertido. Meus olhos semi cerrados vislumbravam meus amigos, tão calmos após o almoço.
O almoço também pesava no meu estômago, então minha mente foi desligando. O ar se tornara nostálgico, cheio de uma nostalgia que nem sabia d'onde. Fui retrocedendo no tempo sem ao menos querer e, de pouco em pouco, me vinham imagens, situações... eu mal escutava a conversa do resto deles, pois me veio a saudade. "Ei, Ele dormiu gente?", se perguntavam. Eu conseguia escutar, mas não conseguia responder... meu corpo perdera as energias e conseguia apenas processar momentos passados.
Meus olhos viraram cinema privado.

Eu tinha tão poucos anos, eu era tão pouco antes. Há tão pouco.
- Como será que vai ser? - eu perguntava.
- Como eu vou saber? - me respondia.
- Como eu queria saber... - então eu dizia.
- Como todo mundo quer saber...! - te continhas.

Eu mal sabia escrever, eu mal sabia o que ler.
- Eu mal sei por onde ir - eu reclamava.
- Vai, oras. - e já me respondias, tão cedo.
- Se vou, não sei por onde. Tenho que pensar, tenho que saber!
- Então pensa, e não fala. - eras a sinceridade em pessoa e carne, mas antes.

Eu não me lembro do outro eu, do outro antes de mim. Era tudo confuso, sem tudo.

- Ei, acorda!
Acordei de sobressalto, com uma puta chuva caindo.
- Quê? - mas ainda estava atordoado.
- Não tá vendo que tá chovendo? Acorda caramba!
- Tá... tá. - saí cambaleante da rede, tentando pegar meus chinelos de borracha pois tinha medo que estragassem na chuva.
Agora, vestia chinelos com o mesmo cuidado de camurças. O chinelo amortecia meus passos. Eu tinha medo, novamente, de ir; mas ia ainda assim.

domingo, 5 de dezembro de 2010

- E por que não?


Eu poderia dizer o que eu quisesse, fazer só o que me importasse, ir onde me interessasse, amar só quem eu realmente amasse; mas não, sou obrigado a uma liberdade falsária, que me diz apenas o que quero ouvir.
Dentre todas coisas que conquistei, ainda não foi a coragem de encarar a verdadeira liberdade que encontrei; a verdadeira liberdade trás consigo as consequências, e estas ainda não tenho a força para.
Mas quando a coragem me tomar, serei dono do mundo. De outro, claro, pois este está tão vil quanto a proporção inversa de minha vontade de fazê-lo melhorar; e não digo entre linhas sobre a morte, falo sobre algo que eu possa construir com minhas mãos, pois também não falo sobre outra realidade em paralelo, digo da realidade em questão.
- Eu poderia, mas não com essas mãos.
- E por que não?
- Ainda não estão prontas, só.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vê? És.



és além do que um simples querer.
És manhã
vês além do que um mero anoitecer.
Anoitece meu coração
e iluminas meus olhos
meus sonhos
meus tontos pensamentos.

és o que és.
És
para além do que um pequeno passará.
E a todos que ficam
a todos que estão
a todos que vão
um recado:
nada na vida é passageiro
sem eira
sem beira
sem lua cheia
é tudo belo
aos que querem beleza
então
És beleza
és para além do que um tempo

e verás quê.

Sair da linha de pensamento, parte 1





Eu sempre achei que sair da área comum fazia bem para qualquer situação.
Eis que utilizo isso nas fotos que faço, nos textos que escrevo, e por que não fazer isso na vida também? Comecei a desenhar sem querer, há uns 5 anos atrás, e parei semanas depois. Logo, ano passado, quando recebi sem querer alguns papéis Canson resolvi tentar e, estes que coloco aqui, são desta semana, onde já utilizo de Nanquin e guache, a batom e lápis de olhos.
Espero que curtam :)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Não. Agora, não.


E quando chega a noite é que eu me pergunto, valeu o dia? Valeu o calor, valeu a chuva? Valeu a tensão dos carros passando e se atravancando em cada canto da cidade?
Agora tudo é tão calmo,
tão terno,
tão ermo.
Me sinto mais ameno. A temperatura, inclusive é mais amena. Meu corpo, inclusive, é mais ameno. São treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, mas podiam ser treze graus e duas horas e dez minutos da tarde, mas as coisas não são as mesmas. É menos gente, é menos essa serpente de congruações da cidade, da imundice.
Não que eu ache que a noite não seja mais suja, porque é. Só quem está andando à essa hora pelas ruas - que eu também ando - só as pessoas que buscam um pouco mais, assim como eu busco.
Mas elas não buscam a família, não buscam o trabalho para sustentar o seu lar, não buscam respeito perante a sociedade, nem buscam o amor pelo resto de sua vida; não sei o que buscam. Também não busco nada. Se eu não encontrar não encontrei, e aí só amanhã à noite.
Talvez seja essa sujeira.
O agora seria uma sujeira?
Seria? Talvez.
Talvez para os que vivem da modéstia de planejar o que querem daqui a dez, quinze anos, mas eu nunca fui assim, não sou assim. Quem sabe um dia eu seja assim. Mas agora, aos vinte anos, treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, agora não. Agora tudo que me resta é a polícia passando e eu pensando:

- Quem eles estão procurando?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sou de quem

Arteiro

- É da boemía minha vida
e minha vida é da boemía.
- Diga-me o contrário
e aí a surpresa.
- Concordo
sei que concordo.
- Relutas
sei que relutas.
- Mas concordo
sei que concordo.
- É história de amor
da mais longa.
- Das que não tenho
mais o que dizer.
- Das que não tenho
mais o que esconder.
- Não reluto mais
por ser perda de tempo.
- Era rara paixão
não correspondida por mim.
- A boemía é minha
e sou eu da boemía.
- Agora é história de amor
das mais lindas que já vi.
- Somos um do outro
eu e tu somos do mundo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mim, mim, mim, não!

De volta
Preciso de um lugar de novos lugares, sem mais o lugar comum e a comum vantagem de conhecer os ares de já conheço este lugar. Preciso exatamente é das vantagens de não saber com quem esbarrar na próxima esquina, no próximo trecho de avenida.
Tenho medo dessa insegurança de não poder fazer nada errado e sair falado pela língua de um povo que sei de vista quem são os nomes e endereços, mas que pouco sei das intenções e apreços. Vá que um dia um me ataque, tudo que posso dizer é
- Mas já o ví em algum lugar... - vestido daquele olhar suspeito.
Preciso viajar, e errar à vontade sem me preocupar com o que
ou se vão me
achar. Preciso não só sair deste lugarejo, desta comum idade, preciso me perder para então saciar a minha vontade em me achar.
Achado estou, oras! Estou aqui,
me pego,
me toco,
me espero,
me canso de mim e mim e sempre este mesmo mim que teimo em procurar em algum lugar...
não!
Cansei!
Preciso despir este mim e o deixar na esquina satisfazendo alguém, que não eu, e encontrar o tal eu que satisfaça à mim.

domingo, 21 de novembro de 2010

Pensando bem...


Se o medo é em me deixar,
me deixe.
Se o medo é me machucar,
me machuque,
tudo bem.
Agora,
se o medo é me amar,
por favor,
me ame.

sábado, 20 de novembro de 2010

Crônicas de meu antigo caderno, parte 2


I


14/11/09


19:28


"O barulho é alto, mas é gostoso.
Chama-se silêncio."


21:xx

"O toque foi de amor. Queria entender por que só ela então não me basta. Quer dizer, então que o que me para não é amor, mas sim paixão?
Ou quem sabe a loucura.
Ou quem sabe a luta por quem ainda não tenho. Vai ver a dor tem seu sabor de quem não se tem.
Agora tudo está tão absurdamente melhor que antes. Rimos o dia inteiro. Me interessa amanhã, se vai continuar.
Tudo isso me deteu de ir chutar um destino, de surpresa. Claro, houve medo. Na realidade só medo. Não estou medindo certo ou errado, medi apenas minha vontade.
Estou decidido a conversar com ele como nunca antes estive. Agora só me fala a oportunidade.
E esta vou moldar ao meu jeito;"


II


15/11/2009


17:+-


"Meu lixo se resume a poeira e flores mortas.
Um pouco daquilo passado ou nunca usado.
Me deixei juntas apenas com pá e luvas.
Não é nojo ou descaso,
não quer dar oportunidade
em errar e deixar espalhar tudo de novo."


III


19/11/2009


00:44


" 'Não sei se endereço isso à tua casa ou à minha'
Comecei mais ou menos assim.
Não foi impulsividade, eu sabia muito bem o que estava fazendo. E fiz. FIZ!
FIZ!
Lidei nosso passeio de hoje como despedida dessa fase. Ainda não conversamos.
Hoje. Vai ser inevitável.
Penso ser bom. Penso ser ruim
Não sei; pelo menos encerrei o caso.
FIZ!
E que não me rime com Fim.


IV


01:38


"Nem o trabalho me fez esquecer da conversa que hoje não tivemos, os olhares que não trocamos, os assuntos recorrentes não recontados e rediscutidos.
Eu não sabia o que faz. Você não aparentava ter o que dizer."


V


02:53


"Hoje acordei rezando que me dissessem 'como assim? Andou sonhando, é?'
Tudo me parece um sonho de péssimo gosto.
Não lido bem com perdas, e morro de medo só em pensar que esta pode ser uma; daquelas que revemos só depois de quase um ano e cumprimentamos só por educação.
Me pergunto se vai conseguir me perdoar em situação que me prometi não pedir perdão.
O pior é concordar que nos afastarmos pode realmente lhe fazer bem. Mudar de ares, esse tipo de coisa. Nova gente, novas festas, novas coisas. Todos, em algum momento, precisam de mudanças. Eu precisava, também.
Tentei melhorar,
estraguei.
Como sempre, claro. Como nunca antes; me supero."

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fui


Fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui... cheguei.
Voltei correndo,
então;
com o coração na mão
sem um tostão.
Fui sem medo e voltei correndo.
Voltei correndo por entender que não há mais muito o que se entender. Hoje em dia torno-se comum sentir saudades de tudo que não se viu, por não termos mais muito o que ver, se não o que nos dizem dizer – histórias de sonhos construídos por sonhos mal resolvidos, apenas, e não só apenas histórias vividas, simples assim’s.
Enquanto ia, imaginava eu ver um mundo inteiro como imaginava; ledo engano jovial: está o mundo onde estão os pés; é o mundo onde estão os olhos. É o mundo, enfim... sem enrolações e suposições fracas de alguém que mal viveu para contar alguma história bem-vinda: insatisfação.

Retoriedades


Olho pela janela e vejo um horizonte que nunca imaginei;
olho para dentro de casa e vejo um dos lares que já sonhei;
olho para o espelho e revejo todos os sonhos;
sonho e vejo todos os horizontes que podem ser meus.
Os meus pés não estão no chão,
e não vejo mal nisso.
Honestamente, nunca entendi porque todos tem de ser tão exatos quanto ao futuro e ao passado; ou de onde estão pisando, exatamente de quais ovos estão desviando; não entendo a exatidão. Entendo tudo aquilo que me faz ser, ou que me fez ser, ou que me fará ser. Podem, todos eles, estarem ligados ao cálculo de alguma maneira, mas como poderia eu calcular quanto será eu mais alguém, quando não sei nem o teu nem o meu valor...

Aliás, como vai você?
- Estou bem, obrigado.
Mas não havia sido uma pergunta retórica.
Ou apenas tenha sido apenas uma resposta seca; intuitiva.
Apesar de eu não calcular, sei muito bem meus instintos, e entendo muito bem o chão - que apesar de não senti-lo com os pés, sinto com a face mais do que pretendo e menos do que conquisto, apesar de sentir ser exatamente na medida do merecimento.

- E você, tudo bom?
Se sorrir não basta para me dar ao direito ao silêncio,
se sorrir não basta para não me deixar mentir, ou iludir uma resposta,
então não sei, pois sorri apenas.
Fazer o quê além disto?
Seguir andando.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mais um conto de Eliza, parte 1


Eliza que era mulher de verdade. Dizia o que pensava e pensava sem medo, não. Quando a noite nascia ia Eliza, toda toda, pro tal samba que ela tanto gostava. Metia um cigarro na boca, um copo na mão – como se fosse homem – e começava o seu rebolar em que Eva pareceu lhe ensinar – como toda mulher deveria fazer. Mastigava a maçã como Deus nunca imaginou alguém mastigar.
Negava todos negros, brancos, mulatos, na dança. Queria mesmo era fazer as bocas dos marmanjos caírem, e só. Sozinha era mais gostoso, me dizia ela. Não tinha que mandar e nem ser mandada nos passos que dava.
- Sabe, Brah. Acho que nunca conseguí um homem que tivesse poder pra me guiar na dança, na vida... quero mais é ser solta, solteirinha, assim como sempre fui. Tu me conhece.
- Conheço sim.
- Conhece.

Nunca a vi chorar, a não ser quando esqueceu seu dedo mindinho no Box do seu banheiro. Me ligou fula da vida, berrando e gritando e enfiando à força algumas palavras pela linha telefônica. Era ela o tipo de mulher que todo homem gostaria de ter, mas não conseguiria agüentar muito tempo, não Senhor.
- Esta porra... – e assim ia, e ia, e ia nas palavras que em qualquer outra cairia vulgar, mas nela não, nela era o que era.
Era branca com sangue de negra brasileira.

Quando a via sambar me vinha o sonho daquela mulher sambando para mim. Coisa que, quando ela conseguia me fazer descer ao bar, acontecia algumas vezes. Os pés dançando, as pernas, a bunda rebolando com vontade divina, e o que posso dizer dos seios se não mais do que já vi? Engolia em seco. Dava um trago. Tomava um gole. Tudo que podia fazer, afinal.
Apenas não via o sorriso dela este dia. Logo ela... talvez tenha sido só um dia ruim. Talvez tinha sido um dia mal, e só isso.
Talvez tenha sido só mais um dia só.

sábado, 13 de novembro de 2010

São os olhos



I



Ah...

Se todas as coisas à minha volta pudessem falar. O que diriam, que não

- ...

Que não tudo que já se colocaram a me dizer, nada.

Ah...

Se fosse eu menos ansioso,

se fosse eu menos intenso,

se fosse eu menos...

Eu?

Não, não. Eu não teria coragem disso. Logo a única certeza que tenho de minha vida; logo a única inconstância que não me constrange.


II


Quem sabe eu durma, quem sabe eu suma, quem sabe eu até mesmo compre, para matar a sede, um suco de uva. Mas hoje não, hoje quem sabe eu caia em alguma rua e acorde em outra casa e atropele algum cachorro e espere que ele fique bem no céu.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja de novo mais um; ou não.

Quem sabe eu me descubra bonito, interessante, inteligente e elegante. Quem sabe o mundo resolva me dizer o quão bonito eu sou, ou o quão bom sou nas coisas que faço; quem sabe até me dêem, por pura vontade de dar, um prêmio em dinheiro que me valha uma passagem só de ida para qualquer lugar, e que lá me deportem de volta ao meu país de coração.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja eu de novo; ou não.

Quem sabe a vida resolva aprender a voar. Quem sabe a morte resolva doar à mim seu bastão.
Ou não, quem sabe hoje simplesmente não.
E, se não, aí sim.


III


Das coisas que sei, poucas saem muito de meu mundo. O engraçado é eu, ao olhar pela janela, me sentir já imponente, logo quando estou em situação de impotente perante terceiros, quartos, quintos...

O mundo já não é o que era antes; engraçado, logo em um mundo que sempre foi o mesmo. Mas aí percebo: não é o mundo que muda, são os olhos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

De novo



I



E

de repente

uma agonia me atinge

como trovão. Uma vontade incontrolável

– porém facilmente controlada –

de berrar

meu próprio nome.

Quem sabe eu responda

e me dê resposta.

Raios,

onde está o que

sempre tive e

onde está o que

sempre quis ter?

Onde está

tudo isto que

não sei o que querer?

Onde foi parar

o filho,

o irmão,

o neto,

o sobrinho amado,

o amigo, amante,

não sei;

sei onde

está este que roubou

meu rosto

e meu nome.

Sei onde

estou,

mas não

sei onde

estou;

sei o que

enxergo,

mas entendo?

Me rendo,

me estendo por hoje,

assim como

ontem,

assim como

provavelmente amanhã,

na possibilidade macia

e fácil de minha cama.

Me rendo,

mas só por hoje,

de novo;

prometo,

de novo.

De novo,

engano.

Engano

aos outros?

Aos outros

quem sabe

aos outros

um plano:

deixa

que um dia passa.


II


Sinto no copo mais amor que senti minha vida inteira. Não é vício, não senhor, não pense nisso; longe disso! Talvez seja apenas necessidade de ver a vida como ela realmente é: conturbada, vesga; estampada de luzes que acendem e um dia apagam. Talvez seja falta de algo melhor para pensar em fazer; tirar o lixo para a rua, já fiz. Me senti enfiar no cu cada sacola cheia de sujeira.

Mundinho de merda este, viu. Lindo, belo, de risos, mas de merda.


III


As ruas estão cheias hoje. Uma pena.

Dei meia-volta.



Brazil não mais



Ah...

que saudade do Brasil com "s".

Cansei deste Brazil,

dos olhares cruzados –

nós que olhamos para lá do Oceano,

e eles que olham pra cá.


Ah...

que falta me faz

de fato o que não vivi

do samba de raiz

do carnaval de fato

não do espetáculo


Ah...

como eram felizes

e como não sabiam?

Até mesmo eu o sei

que hoje será melhor que amanhã

que hoje não é bem mais assim


Ah...

mas do que adianta sonhar?

mas do que adianta reclamar

da saudade do “s” de samba

do Brasil da simplicidade

do Brasil do sabor


Ah...

mas do que adianta sonhar?

vou é lá sambar

até o Brasil de “s” raiar

até o vento bater daqui pra lá

e não mais

não mais tirar-me de meu lar

e não

não que eu não vá

mas se digo que volto

volto por nosso mar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Corrí




Corrí do medo em me achar esperto demais,
quando o que me resta é apenas ausência de coragem;
fugí do medo.
Corrí.
Peguei casaco,
esquecí de mim.


Não conseguí esperar o primeiro ônibus passar. Tive de sair andando, mesmo sem saber onde estava, por qual rua passava.
Meus olhos estavam turvos por lágrimas que não eram choro, tampouco frio. O vento estava forte, e o inverno não ajudava a minha pressa e personalidade descontinuada. O céu carregado assustava.

Passo,
e passo,
e passo e passo por tanto,
e passo por tantos prédios infestados de gente que mal entendem da própria vida e que tanto insistem em querer saber dos alheios dos andares de cima e dos andares de baixo, e dos andares de quem vem-e-volta de suas vidas.


Venho
vou
e nem tenho que entender.
Só venho, vou, fujo e passo. Sem luta, sem sangue.
Não tento entender. O tempo faz-se necessário, então. Então, o tempo vai.
E eu...
eu nem tento entender.
Eu apenas venho, vou, e quando menos espero dou de cara em algum que me dê algum descanço momentâneo. Não me obrigo ao entender. Apenas é isto, e não como aceitação, não como alguma tipo de lapso de
- Já que é isso, é isso e só.
Não.
Também nem sei dar nome ou expressão engraçada. Apenas corro do medo em me achar esperto demais.
Se driblo a tanto tempo do que ando me esquivando,
não necessito da coragem que me falta; absolutamente, e só, não quero compreender o que me faz faltar. E aí corrí,
e o frio que faz lá fora me fez perceber não ter trago, de novo, um casaco para me cobrir,
e o frio que faz lá fora me fez agradecer esquecer mim.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sinal


Não é que eu não saiba o que quero, eu só não encontrei ainda o caminho para chegar lá. Um tanto piegas, eu sei; nada muito diferente do que tenho feito minha vida inteira:
achado-me sempre
em caminhos não
lógicos. Atrás das
trilhas paralelas
aos caminhos
óbvios. Se é para estar nascido,
ao menos quero o prazer de uma viagem sem destino óbvio. Me devo isso. Me entendo ao compreender isto.
Os caminhos óbvios, os destinos óbvios; tantas 0bviedades animalescas, acidentais. As placas sinalizando e os sinais mostrando quando devo seguir ou ficar estancado no mesmo lugar. Tudo isto torna o passeio tão mecânico, tão impessoal. Te dão o direito à democracia da escolha, e logo apontam qual bifurcação "é o melhor caminho" ou "é a melhor saída".
Pois digo saber qual o melhor caminho, e digo quantas vezes for necessário:
não estou de
saída, ainda.
A hipocrisia da política, do sexo, da vida, me cansam. Mas tudo bem, para alguém que já nasceu sufocado pelas próprias tripas.

Quando olho em volta e vejo todas essas pessoas sem vida, me ocorre se elas - ou ao menos as inteligentes - não pensam o mesmo sobre mim.
Estaria eu sendo tão intolerante em relação à vida comum?
Às vezes acho que sim.
Às vezes sinto uma certa inveja por não me contentar com o comum satisfatório.
Quem sabe um dia...

domingo, 7 de novembro de 2010

Crônicas de meu antigo caderno, parte 1


Encontrei isso em um caderno antigo:


16/07/2009


19:00
"Por mais que eu pense no que escrever, no que dizer, no que fazer, não adianta.
Dormí até não poder mais, e continuei deitado até a televisão não mostrar mais nada que cansaço. Tomei banho longo, mas a alma não se lava com água e sabão;
Tomo água em copo de bar, rezando para que se transforme em vinho barato - que me leve daqui e me traga de volta com dores de cabeça fortes o bastante para me mostrar quão vivo é isto.
Narciso fez bem em amar só a sí. Pode ter se tornado solitário, mas quem não é? Ao menos era feliz, o Narciso"

19:20
"Só queria que parasse de chover"
19:30
"Daqui a pouco estou vendo sapos pelo quintal...
ou quem sabe eu me torne um."

Tão...



Ah...

que tristeza é a dor de quem sente-se aquém à tudo que teima em me deixar... assim.

Ah...

que tristeza é o amor de quem deixa-me além à tudo em me deixar tão... assim.


Sabe, sempre sonhei que tudo pode acontecer. Nada além de nada mais que um bater de palmas à minha pessoa, por ter conseguido tudo que pode me deixar... vão.

Vão todas as pessoas que pouco entendem.

Vão, e olharão, pós depois de tudo, que pode ser eu. Vão é o meu tão... eu.


Ah...

que felicidade é a dor de quem sente-me aquém à tudo que teima em deixar-te...

Ah...

que felicidade é o amor de quem deixa-te além à tudo em te deixar tão...



Sabe, nunca realizei que nada pode acontecer. Tudo além de tudo menos que um ócio de minha pessoa, por ter desconquistado nada que pode me deixar... inteiro.

Inteiro todas as pessoas que muito percebem.

Inteiro, e sentirão, antes de antes de nada, que pode vir a ser eu. Inteiro é o meu tão... eu.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Venderia, se



O sossego não trás apelo, só fragmenta.
Não sei se é comodismo ou felicidade
do cansaço do dia, do cansaço do gozo. Do cansaço do riso, ou do cansaço de si.
Quem disse que não dá trabalho rir não sabe. Se a culpa é tua,
a culpa é minha, se.
Do cansaço de se querer bem, sempre tão bem.
Bem-estar-bem, sempre estou aí! Para o que der e vier,
para o que der e convir! Bem que nada como sentir-se.
Sentir a si, por inteiro. Sentir a tristeza como prêmio.
Ou algum incômodo, alguma irritação. Não sentir-se sorrindo,
não sou vendedor. Sou mim por inteiro,
algo aí, perdido no palheiro. Palheiro aos prantos
que o sossego não trás apelo. Só fragmenta eu,
me diminui a reles vendedor.
Pois não sou!
Sorriso Colgate vale dinheiro; pois meu bem, meu sorriso não vai valer meu bem.
Não é pranto, não é felicidade.
É sorriso,
sorriso de vendedor. Pois não vendo minha alma,
esta tal, que mal tenho. Pois não vendo minha carne,
pois não vendo satisfação. Tampouco felicidade.
Vendo uma triste idéia de felicidade contínua e imutável. Incansável. Aliás: venderia,
se.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tic-Tac



A vida anda, a vida segue, a vida e seus passos pequenos segue, aprende a andar por seus próprio pés, logo logo aprende a correr. Logo logo cansa-se e estaca-se em um banco tranqüilo, sentindo o vento bater e assistindo outras vidas passarem, e irem e acabarem.



Tic-Tac

faziam as sandálias

Tic-Tac

e os passos

Tic-Tac

e mais um passo

Tic-Tac

faziam as sandálias

Tic-

uma sandália

-Tac

outra sandália

Então o silêncio

Então nem passos

Então nem sandálias


A vida anda, segue, corre, cansa. A pilha do relógio, acaba. A calçada termina e lá vem a travessia, e o mesmo a paciência que silencia. E o mesmo os olhos que silenciam.

E a quietude da eternidade,

ou a coragem da vida nova. Ou a dúvida do medo; ou o medo da dúvida.


Tic-Tac

me dizia o relógio

Tic-Tac

me reclamava o relógio

Tic-Tac

me contava a vida

Tic-Tac

Tic-

-Tac

Então o silêncio

Então nem pressa

Então nem cruz nem espada.

domingo, 31 de outubro de 2010

Mas até lá



Tenho as malas prontas desde que nasci,

digo a sério e ninguém me acredita. Ninguém confia em minha organização, ao menos quem me conheça; mas pouco entendem que não é a mala da mochila que preparo, é a bagagem da vida.

A viagem está posta à frente, a sede está sedenta de não tédio e perdições por ruas de não sei o nome.

Quem sabe um dia eu chegue aos lugares em que nunca quis ir, pois será prova de já ter ido a todos que sempre sonhei.

Quem sabe um dia eu vá, mas até lá...

até lá não sei. Até lá é um sonho de criança,

apenas.

Apenas não, melhor:

ainda.

Ainda um sonho de criança. A qual não mato e me orgulho ao me chamarem

- Infantil...!

Se toda história tem dois lados, prefiro ver o lado do Pequeno Rei.

Se toda história é feita de amores, prefiro não ver; pois ainda tenho meu lado criança, e por mais que tenha medo do que não conheça,

me apavora ainda mais com o que crio na minha cabeça.

Tolo



Ando nem querendo,

nem tentando,

nem supondo.

Ando pensando só para onde ir depois daqui, e seguir com minha vida

– sem coesão,

sem ritmo moderado,

sem moderação.

Ando é aproveitando a luz do abajur como sendo meu Sol, e os raios de luz do dia que passam pelos furos de minha parede de madeira imaginando serem constelações de estrelas. Ando entendendo pouco,

esperando pouco,

buscando pouco.

Ando assistindo onde vender meus reles sapatos em troca de um pouco mais de passos; que pelo chão de pedra,

dolorosos,

mas ainda assim passos.

Ando nessa de fugir, mas se não enxergo meus chinelos quando estão eles bem em minha frente, como posso pensar ser capaz de escapar depressa do que mal posso ver?

Tolo.

Me dizem

- Tolo.

Me entendo como tolo.

Me suponho como um tolo.

Mas ando não supondo e pouco entendendo, então como vou querer

– quando tampouco ando querendo

sentir-me tolo?

Por isso repito

– sem coesão

e não preciso mais de explicação.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Em meio a tantos como nós



A chuva caía e nada mais importava. Tudo que podia ouvir era o som que vinha lá de muito longe e do som que provinha das vozes insanas ao meu lado. Gritavam coisas que eu não podia entender e eu também gritava tudo o que eu gostaria de cantar e que ninguém mais podia entender.

Eu prestava atenção nas mãos que se encontravam por uma questão única e sua, somente sua. As luzes que iluminavam a todos nós também se encontravam às gotas de chuva que se encostavam em nossos rostos como que benção divina, que nos lavavam o suor do cansaço prazeroso do prazer de estarmos todos nós ali, e somente ali, sozinhos em meio à multidão solitária.

Pulávamos todos, cantávamos todos, esquecíamos todos de nossas vidinhas sacais; estávamos todos unidos, esquecendo-nos todos juntos de tudo mais que nos restava preocupar. A casa, a família, os amores passados e presentes e os futuros que nos esperavam; nada mais. Éramos todos um, únicos de nossas preocupações e ignorantes de nossas responsabilidades. A água que caia e nos beijava pelo corpo tornava a nós nada mais que grãos iguais a todos os outros grãos no universo, e nada, nada mais.

Éramos tudo que queríamos ser:

nada mais que um ponto que formava a leve e linda grossa multidão de quem via,

nada mais que nossa alegria, e as dores que nos perseguia.


A chuva caía e nada mais importava, a não ser a música e nós mesmos em meio à multidão de solitários cansados, em meio a tantos como nós.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Da vez em que saí andando







I




A madrugada estava conturbada. Dentre as besteiras da televisão e as besteiras de minha mente qual escolher?

De uma da manhã somaram-se mais três horas, e quando dei por mim o relógio havia corrido corrida com obstáculos, e ganhado de mim.

Coloquei música para um banho quente, quem sabe isso me fizesse relaxar.

Peguei toalha da janela, desliguei as luzes e fiquei somente à luz da rua. Que sensação boa era não enxergar, e saber ainda assim onde estava.

Até hoje não sei dizer quanto tempo passei, sei apenas de minha crescente vontade de fazer algo que me fizesse inteiro.

Meus amigos, às nove da manhã, se reuniriam na praia para aproveitarmos mais um dia de verão; foi aí que me ocorreu a idéia, e por que não?





II



Sequei-me, vesti-me com regata, bermuda e tênis confortável. Enchi minha garrafinha de água, peguei minha simplória câmera compacta e, junto de roupas extras pós-praia e alguns lanches empacotados, coloquei-os todos em minha mochila.

Em seguida, com meu mp3 de pilha completamente carregada, meu celular e minha cabeça e corpo leve fechei as portas de meu quarto alugado, fechei as portas da cozinha de acesso à rua, e desci os primeiros degraus.

A noite ainda estava fechada, eram apenas quatro e tantas da manhã e o Sol nem ensaiava em levantar do horizonte. Minha intenção primeira era assistir ao seu nascer na Praia Mole, molhar meus pés na água gelada e revolta e seguir até a Praia da Barra da Lagoa, onde estariam todos.

A adrenalina corria minhas veias, agora feitas de pura excitação. A cada passo um ensaio de desistir.



III



Poucas vezes senti tanto medo, mas tanto prazer; era um orgasmo em conjunto entre eu e a vida. A única iluminação durante a subida do morro da lagoa eram os postes, que por estarem um tanto distantes um do outro, não cobriam todo chão feito somente de asfalto. Nunca quis tanto encontrar uma calçada.

A subida não era cansativa, mas eu estava ofegante pela preocupação de algum carro, em sua desatenção de férias, não se importar em utilizar os cantos da pista. Mudava de lado sempre que podia, para onde pudessem também os motoristas me ver.

Lá pelas tantas resolvi olhar para trás, e que vista linda. Eu ainda estava na metade do caminho de subida, mas a cidade já estava visivelmente para trás, com suas lâmpadas e prédios e ruas e carros. Minha câmera de mão já estava cansada de registrar o caminho, mas minha mão elétrica em apertar o botão da pequena digital. Minhas pernas tremiam, e penso que talvez teria sido melhor aceitar a carona do carro em que quatro mulheres estavam visivelmente enlouquecidas por um parceiro – percebível pelos berros e gritinhos ao passarem em seus oscilantes trinta e noventa quilômetros por hora.



IV




Chegar ao topo realmente lhe dá a sensação de poder, principalmente quando utilizado apenas de suas pernas. O dia estava clareando, havia calculado mal o tempo ou havia eu perdido tempo demais na subida? Não me importava. Eu chegaria quando havia de chegar, e estaria lá na chegada para contar.

Descer, aí descer torna-se mais tranqüilo. Com o dia querendo começar, ciclistas já começavam a pedalar, e corredores a correr, e eu a cumprimentá-los com sorriso de marinheiro de primeira viagem de aventuras de mim comigo mesmo.

Para descer, diz o ditado, todo santo ajuda; mas não foram necessários. Estavam eles assistindo em sua TV à cabo e rindo de minha idéia que poderia claramente ter dado muito errado.

E que cena linda é da Lagoa da Conceição em aurora. Sempre a vi, desde minha infância, e nunca quisera prestar atenção como prestei enquanto estava no mirante, e que lembrava e pensava sobre enquanto lutava contra meu já cansaço perante a gravidade que puxava meus pés para baixo da ladeira.

Quando terminou, praticamente agradeci por poder pisar em chão nivelado, e comecei a procurar uma boa padaria para meu desjejum.

Passava uma, passava outra, e já chegava nas Rendeiras quando percebi que não precisava ainda. A lagoa calma, as gaivotas gavoteando, os passantes passeando; eu, click aqui, click ali. Não sinto orgulho de muitas fotos das muitas, muitas mesmo, que tirei; meus olhos ardiam pelo sono e pela luz, que ainda fraca, mas que também novidade.




V




Após a parada para o suco natural e um sanduíche muito, muito estranho, subida. Morro da Mole, enfim. Ainda bem que com este estava acostumado, o que honestamente já não mudava muito o quadro: camiseta suada, pés doloridos, costas doendo do peso da mochila.

A segunda subida e descida foram de absurda concentração para ver o primeiro objetivo: a primeira praia. Quando vi a areia saindo da pequena trilha que tinha que atravessar despi os pés e que bom foi pisar na luva que estavam os grãos de areia.

Nos meus ouvidos começavam os primeiros acordes de Feeling Good, interpretado pelo genial Michel Bublé. A praia aparecendo aos poucos entre o matagal, o mar revelando-se aos poucos, e enfim... “it’s a new done, it’s a new Day, it’s a new life for me... and I’m Feeling Good…” (é um novo objetivo alcançado, é um novo dia, é uma nova vida para mim… e eu estou me sentindo bem).

Sentei-me na areia exausto, com meus olhos marejados pela música, pela cena em que estava protagonizando. O mar quebrando violentamente logo na beira, e um pequeno lago formado pela descida da maré.

Ao longe apenas uma cadeira de praia e um guarda-sol, sozinhos. Deus estava sentado ali aquela manhã, e acenou para mim, orgulhoso.

It’s a new done

It’s a new day

It’s a new life

And I’m feeling good

A música terminava, coloquei-a para repetir e segui caminho.






VI




Havia já lavado a Alma. Subir novamente mais um morro e descê-lo, os fiz feliz e de câmera na mão, claro.

A Lagoa voltava a ser minha companheira em minha caminhada, e o Sol forte minha preocupação. Estava sem protetor solar ou boné, e tudo o que pude fazer era jogar o resto de minha água em minha cabeça. O dia estava lindo, sem nuvens, porém perigoso para alguém sem planejamento como eu.

Dali pensava eu ser próximo de minha chegada, mas estava redondamente enganado. Após pegar a rua que desembocava para a Praia da Barra, além de poucas belezas, um muro enorme em extensão que repetiu-se por metade do caminho, e que me deu a péssima sensação de não sair do lugar. Foi, de longe, o trecho mais cansativo. Minha sorte é de que estava chegando.

O centrinho de lojas e sorveterias começou a dar a sua cara depois de uma meia hora de caminhada lenta e paciente. Os chinelos turistas já enchiam as ruas das nove e meia da manhã.





VII




Chamaram-me de louco ao contar a história, e alguns demoraram a acreditar, e não sei até hoje se acreditam realmente. Tampouco eu entendo os motivos, só sei do que fiz, e que não saberia se faria de novo o mesmo caminho, mas fiz em golpe de coragem e tédio.

Fiz, e que bom foi seguir meus instintos mais uma vez.