domingo, 26 de dezembro de 2010

E eu ali


E eu ali.
Enquanto todos, tudo.
Eu, nada.

E eu ali.
As luzes vibrando,
as folhas balançando ao som do vento de início de verão.

E eu ali. O mundo girando, os carros passando.
E eu ali.
Se é Sorte ou Azar, eis o que iremos nos mostrar.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Todos passam


Todos passam.
Seus rostos nêutros,
sem medo, sem ternura, sem coragem
nem maquiagem.
Passam, não deixam rastros. A má vontade,
ou a boa vontade,
apenas não passam de falta de vontade. De falta de descanço.
Cansa.
Estão cansados, seus olhos quase fechados.
Seus passos: cansados.
Todos passam.
A vida passa.
É a vida.

Todos passam,
sem vida. Exaustos,
estão cansados do dia,
estão cansados da vida,
estão sorrindo. Estão exaustos,
e o dia, enfim, termina.
Os sorrisos são tristes, estão tristes.
Ou apenas cansados, e cansados seguem ao lar.
Lar do canto do amor sem dor, sem pranto, do canto
insassiado. A comida está sem sal.
Até a cerveja gelada lhe faz mal. Que mal?
É o tal.

Mas todos ainda passam, não param de passar
até que eu mesmo não pare de passar
pelos passantes da rua da qual o ângulo
me parece tão distante.
Da rua da qual a normalidade é séria
e os risonhos são loucos!
Mas a normalidade está doente,
cansada.
Os insanos são normais que apenas deixaram
a desejar e desejaram o indesejável. Agora
apenas sorriem para afastar os maus agouros
da vida.
Os normais: insanos.
Ou apenas estão cansados.

Eles pararam de passar

domingo, 12 de dezembro de 2010

Estava tudo tão calmo!


Estava tudo tão calmo! A rede apenas balançava, o vento apenas deslizava, as pessoas apenas conversavam as suas conversas levianas e cheias de tão pouco significado - pois era divertido. Meus olhos semi cerrados vislumbravam meus amigos, tão calmos após o almoço.
O almoço também pesava no meu estômago, então minha mente foi desligando. O ar se tornara nostálgico, cheio de uma nostalgia que nem sabia d'onde. Fui retrocedendo no tempo sem ao menos querer e, de pouco em pouco, me vinham imagens, situações... eu mal escutava a conversa do resto deles, pois me veio a saudade. "Ei, Ele dormiu gente?", se perguntavam. Eu conseguia escutar, mas não conseguia responder... meu corpo perdera as energias e conseguia apenas processar momentos passados.
Meus olhos viraram cinema privado.

Eu tinha tão poucos anos, eu era tão pouco antes. Há tão pouco.
- Como será que vai ser? - eu perguntava.
- Como eu vou saber? - me respondia.
- Como eu queria saber... - então eu dizia.
- Como todo mundo quer saber...! - te continhas.

Eu mal sabia escrever, eu mal sabia o que ler.
- Eu mal sei por onde ir - eu reclamava.
- Vai, oras. - e já me respondias, tão cedo.
- Se vou, não sei por onde. Tenho que pensar, tenho que saber!
- Então pensa, e não fala. - eras a sinceridade em pessoa e carne, mas antes.

Eu não me lembro do outro eu, do outro antes de mim. Era tudo confuso, sem tudo.

- Ei, acorda!
Acordei de sobressalto, com uma puta chuva caindo.
- Quê? - mas ainda estava atordoado.
- Não tá vendo que tá chovendo? Acorda caramba!
- Tá... tá. - saí cambaleante da rede, tentando pegar meus chinelos de borracha pois tinha medo que estragassem na chuva.
Agora, vestia chinelos com o mesmo cuidado de camurças. O chinelo amortecia meus passos. Eu tinha medo, novamente, de ir; mas ia ainda assim.

domingo, 5 de dezembro de 2010

- E por que não?


Eu poderia dizer o que eu quisesse, fazer só o que me importasse, ir onde me interessasse, amar só quem eu realmente amasse; mas não, sou obrigado a uma liberdade falsária, que me diz apenas o que quero ouvir.
Dentre todas coisas que conquistei, ainda não foi a coragem de encarar a verdadeira liberdade que encontrei; a verdadeira liberdade trás consigo as consequências, e estas ainda não tenho a força para.
Mas quando a coragem me tomar, serei dono do mundo. De outro, claro, pois este está tão vil quanto a proporção inversa de minha vontade de fazê-lo melhorar; e não digo entre linhas sobre a morte, falo sobre algo que eu possa construir com minhas mãos, pois também não falo sobre outra realidade em paralelo, digo da realidade em questão.
- Eu poderia, mas não com essas mãos.
- E por que não?
- Ainda não estão prontas, só.