segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Vê? És.



és além do que um simples querer.
És manhã
vês além do que um mero anoitecer.
Anoitece meu coração
e iluminas meus olhos
meus sonhos
meus tontos pensamentos.

és o que és.
És
para além do que um pequeno passará.
E a todos que ficam
a todos que estão
a todos que vão
um recado:
nada na vida é passageiro
sem eira
sem beira
sem lua cheia
é tudo belo
aos que querem beleza
então
És beleza
és para além do que um tempo

e verás quê.

Sair da linha de pensamento, parte 1





Eu sempre achei que sair da área comum fazia bem para qualquer situação.
Eis que utilizo isso nas fotos que faço, nos textos que escrevo, e por que não fazer isso na vida também? Comecei a desenhar sem querer, há uns 5 anos atrás, e parei semanas depois. Logo, ano passado, quando recebi sem querer alguns papéis Canson resolvi tentar e, estes que coloco aqui, são desta semana, onde já utilizo de Nanquin e guache, a batom e lápis de olhos.
Espero que curtam :)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Não. Agora, não.


E quando chega a noite é que eu me pergunto, valeu o dia? Valeu o calor, valeu a chuva? Valeu a tensão dos carros passando e se atravancando em cada canto da cidade?
Agora tudo é tão calmo,
tão terno,
tão ermo.
Me sinto mais ameno. A temperatura, inclusive é mais amena. Meu corpo, inclusive, é mais ameno. São treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, mas podiam ser treze graus e duas horas e dez minutos da tarde, mas as coisas não são as mesmas. É menos gente, é menos essa serpente de congruações da cidade, da imundice.
Não que eu ache que a noite não seja mais suja, porque é. Só quem está andando à essa hora pelas ruas - que eu também ando - só as pessoas que buscam um pouco mais, assim como eu busco.
Mas elas não buscam a família, não buscam o trabalho para sustentar o seu lar, não buscam respeito perante a sociedade, nem buscam o amor pelo resto de sua vida; não sei o que buscam. Também não busco nada. Se eu não encontrar não encontrei, e aí só amanhã à noite.
Talvez seja essa sujeira.
O agora seria uma sujeira?
Seria? Talvez.
Talvez para os que vivem da modéstia de planejar o que querem daqui a dez, quinze anos, mas eu nunca fui assim, não sou assim. Quem sabe um dia eu seja assim. Mas agora, aos vinte anos, treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, agora não. Agora tudo que me resta é a polícia passando e eu pensando:

- Quem eles estão procurando?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sou de quem

Arteiro

- É da boemía minha vida
e minha vida é da boemía.
- Diga-me o contrário
e aí a surpresa.
- Concordo
sei que concordo.
- Relutas
sei que relutas.
- Mas concordo
sei que concordo.
- É história de amor
da mais longa.
- Das que não tenho
mais o que dizer.
- Das que não tenho
mais o que esconder.
- Não reluto mais
por ser perda de tempo.
- Era rara paixão
não correspondida por mim.
- A boemía é minha
e sou eu da boemía.
- Agora é história de amor
das mais lindas que já vi.
- Somos um do outro
eu e tu somos do mundo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mim, mim, mim, não!

De volta
Preciso de um lugar de novos lugares, sem mais o lugar comum e a comum vantagem de conhecer os ares de já conheço este lugar. Preciso exatamente é das vantagens de não saber com quem esbarrar na próxima esquina, no próximo trecho de avenida.
Tenho medo dessa insegurança de não poder fazer nada errado e sair falado pela língua de um povo que sei de vista quem são os nomes e endereços, mas que pouco sei das intenções e apreços. Vá que um dia um me ataque, tudo que posso dizer é
- Mas já o ví em algum lugar... - vestido daquele olhar suspeito.
Preciso viajar, e errar à vontade sem me preocupar com o que
ou se vão me
achar. Preciso não só sair deste lugarejo, desta comum idade, preciso me perder para então saciar a minha vontade em me achar.
Achado estou, oras! Estou aqui,
me pego,
me toco,
me espero,
me canso de mim e mim e sempre este mesmo mim que teimo em procurar em algum lugar...
não!
Cansei!
Preciso despir este mim e o deixar na esquina satisfazendo alguém, que não eu, e encontrar o tal eu que satisfaça à mim.

domingo, 21 de novembro de 2010

Pensando bem...


Se o medo é em me deixar,
me deixe.
Se o medo é me machucar,
me machuque,
tudo bem.
Agora,
se o medo é me amar,
por favor,
me ame.

sábado, 20 de novembro de 2010

Crônicas de meu antigo caderno, parte 2


I


14/11/09


19:28


"O barulho é alto, mas é gostoso.
Chama-se silêncio."


21:xx

"O toque foi de amor. Queria entender por que só ela então não me basta. Quer dizer, então que o que me para não é amor, mas sim paixão?
Ou quem sabe a loucura.
Ou quem sabe a luta por quem ainda não tenho. Vai ver a dor tem seu sabor de quem não se tem.
Agora tudo está tão absurdamente melhor que antes. Rimos o dia inteiro. Me interessa amanhã, se vai continuar.
Tudo isso me deteu de ir chutar um destino, de surpresa. Claro, houve medo. Na realidade só medo. Não estou medindo certo ou errado, medi apenas minha vontade.
Estou decidido a conversar com ele como nunca antes estive. Agora só me fala a oportunidade.
E esta vou moldar ao meu jeito;"


II


15/11/2009


17:+-


"Meu lixo se resume a poeira e flores mortas.
Um pouco daquilo passado ou nunca usado.
Me deixei juntas apenas com pá e luvas.
Não é nojo ou descaso,
não quer dar oportunidade
em errar e deixar espalhar tudo de novo."


III


19/11/2009


00:44


" 'Não sei se endereço isso à tua casa ou à minha'
Comecei mais ou menos assim.
Não foi impulsividade, eu sabia muito bem o que estava fazendo. E fiz. FIZ!
FIZ!
Lidei nosso passeio de hoje como despedida dessa fase. Ainda não conversamos.
Hoje. Vai ser inevitável.
Penso ser bom. Penso ser ruim
Não sei; pelo menos encerrei o caso.
FIZ!
E que não me rime com Fim.


IV


01:38


"Nem o trabalho me fez esquecer da conversa que hoje não tivemos, os olhares que não trocamos, os assuntos recorrentes não recontados e rediscutidos.
Eu não sabia o que faz. Você não aparentava ter o que dizer."


V


02:53


"Hoje acordei rezando que me dissessem 'como assim? Andou sonhando, é?'
Tudo me parece um sonho de péssimo gosto.
Não lido bem com perdas, e morro de medo só em pensar que esta pode ser uma; daquelas que revemos só depois de quase um ano e cumprimentamos só por educação.
Me pergunto se vai conseguir me perdoar em situação que me prometi não pedir perdão.
O pior é concordar que nos afastarmos pode realmente lhe fazer bem. Mudar de ares, esse tipo de coisa. Nova gente, novas festas, novas coisas. Todos, em algum momento, precisam de mudanças. Eu precisava, também.
Tentei melhorar,
estraguei.
Como sempre, claro. Como nunca antes; me supero."

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fui


Fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui... cheguei.
Voltei correndo,
então;
com o coração na mão
sem um tostão.
Fui sem medo e voltei correndo.
Voltei correndo por entender que não há mais muito o que se entender. Hoje em dia torno-se comum sentir saudades de tudo que não se viu, por não termos mais muito o que ver, se não o que nos dizem dizer – histórias de sonhos construídos por sonhos mal resolvidos, apenas, e não só apenas histórias vividas, simples assim’s.
Enquanto ia, imaginava eu ver um mundo inteiro como imaginava; ledo engano jovial: está o mundo onde estão os pés; é o mundo onde estão os olhos. É o mundo, enfim... sem enrolações e suposições fracas de alguém que mal viveu para contar alguma história bem-vinda: insatisfação.

Retoriedades


Olho pela janela e vejo um horizonte que nunca imaginei;
olho para dentro de casa e vejo um dos lares que já sonhei;
olho para o espelho e revejo todos os sonhos;
sonho e vejo todos os horizontes que podem ser meus.
Os meus pés não estão no chão,
e não vejo mal nisso.
Honestamente, nunca entendi porque todos tem de ser tão exatos quanto ao futuro e ao passado; ou de onde estão pisando, exatamente de quais ovos estão desviando; não entendo a exatidão. Entendo tudo aquilo que me faz ser, ou que me fez ser, ou que me fará ser. Podem, todos eles, estarem ligados ao cálculo de alguma maneira, mas como poderia eu calcular quanto será eu mais alguém, quando não sei nem o teu nem o meu valor...

Aliás, como vai você?
- Estou bem, obrigado.
Mas não havia sido uma pergunta retórica.
Ou apenas tenha sido apenas uma resposta seca; intuitiva.
Apesar de eu não calcular, sei muito bem meus instintos, e entendo muito bem o chão - que apesar de não senti-lo com os pés, sinto com a face mais do que pretendo e menos do que conquisto, apesar de sentir ser exatamente na medida do merecimento.

- E você, tudo bom?
Se sorrir não basta para me dar ao direito ao silêncio,
se sorrir não basta para não me deixar mentir, ou iludir uma resposta,
então não sei, pois sorri apenas.
Fazer o quê além disto?
Seguir andando.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mais um conto de Eliza, parte 1


Eliza que era mulher de verdade. Dizia o que pensava e pensava sem medo, não. Quando a noite nascia ia Eliza, toda toda, pro tal samba que ela tanto gostava. Metia um cigarro na boca, um copo na mão – como se fosse homem – e começava o seu rebolar em que Eva pareceu lhe ensinar – como toda mulher deveria fazer. Mastigava a maçã como Deus nunca imaginou alguém mastigar.
Negava todos negros, brancos, mulatos, na dança. Queria mesmo era fazer as bocas dos marmanjos caírem, e só. Sozinha era mais gostoso, me dizia ela. Não tinha que mandar e nem ser mandada nos passos que dava.
- Sabe, Brah. Acho que nunca conseguí um homem que tivesse poder pra me guiar na dança, na vida... quero mais é ser solta, solteirinha, assim como sempre fui. Tu me conhece.
- Conheço sim.
- Conhece.

Nunca a vi chorar, a não ser quando esqueceu seu dedo mindinho no Box do seu banheiro. Me ligou fula da vida, berrando e gritando e enfiando à força algumas palavras pela linha telefônica. Era ela o tipo de mulher que todo homem gostaria de ter, mas não conseguiria agüentar muito tempo, não Senhor.
- Esta porra... – e assim ia, e ia, e ia nas palavras que em qualquer outra cairia vulgar, mas nela não, nela era o que era.
Era branca com sangue de negra brasileira.

Quando a via sambar me vinha o sonho daquela mulher sambando para mim. Coisa que, quando ela conseguia me fazer descer ao bar, acontecia algumas vezes. Os pés dançando, as pernas, a bunda rebolando com vontade divina, e o que posso dizer dos seios se não mais do que já vi? Engolia em seco. Dava um trago. Tomava um gole. Tudo que podia fazer, afinal.
Apenas não via o sorriso dela este dia. Logo ela... talvez tenha sido só um dia ruim. Talvez tinha sido um dia mal, e só isso.
Talvez tenha sido só mais um dia só.

sábado, 13 de novembro de 2010

São os olhos



I



Ah...

Se todas as coisas à minha volta pudessem falar. O que diriam, que não

- ...

Que não tudo que já se colocaram a me dizer, nada.

Ah...

Se fosse eu menos ansioso,

se fosse eu menos intenso,

se fosse eu menos...

Eu?

Não, não. Eu não teria coragem disso. Logo a única certeza que tenho de minha vida; logo a única inconstância que não me constrange.


II


Quem sabe eu durma, quem sabe eu suma, quem sabe eu até mesmo compre, para matar a sede, um suco de uva. Mas hoje não, hoje quem sabe eu caia em alguma rua e acorde em outra casa e atropele algum cachorro e espere que ele fique bem no céu.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja de novo mais um; ou não.

Quem sabe eu me descubra bonito, interessante, inteligente e elegante. Quem sabe o mundo resolva me dizer o quão bonito eu sou, ou o quão bom sou nas coisas que faço; quem sabe até me dêem, por pura vontade de dar, um prêmio em dinheiro que me valha uma passagem só de ida para qualquer lugar, e que lá me deportem de volta ao meu país de coração.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja eu de novo; ou não.

Quem sabe a vida resolva aprender a voar. Quem sabe a morte resolva doar à mim seu bastão.
Ou não, quem sabe hoje simplesmente não.
E, se não, aí sim.


III


Das coisas que sei, poucas saem muito de meu mundo. O engraçado é eu, ao olhar pela janela, me sentir já imponente, logo quando estou em situação de impotente perante terceiros, quartos, quintos...

O mundo já não é o que era antes; engraçado, logo em um mundo que sempre foi o mesmo. Mas aí percebo: não é o mundo que muda, são os olhos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

De novo



I



E

de repente

uma agonia me atinge

como trovão. Uma vontade incontrolável

– porém facilmente controlada –

de berrar

meu próprio nome.

Quem sabe eu responda

e me dê resposta.

Raios,

onde está o que

sempre tive e

onde está o que

sempre quis ter?

Onde está

tudo isto que

não sei o que querer?

Onde foi parar

o filho,

o irmão,

o neto,

o sobrinho amado,

o amigo, amante,

não sei;

sei onde

está este que roubou

meu rosto

e meu nome.

Sei onde

estou,

mas não

sei onde

estou;

sei o que

enxergo,

mas entendo?

Me rendo,

me estendo por hoje,

assim como

ontem,

assim como

provavelmente amanhã,

na possibilidade macia

e fácil de minha cama.

Me rendo,

mas só por hoje,

de novo;

prometo,

de novo.

De novo,

engano.

Engano

aos outros?

Aos outros

quem sabe

aos outros

um plano:

deixa

que um dia passa.


II


Sinto no copo mais amor que senti minha vida inteira. Não é vício, não senhor, não pense nisso; longe disso! Talvez seja apenas necessidade de ver a vida como ela realmente é: conturbada, vesga; estampada de luzes que acendem e um dia apagam. Talvez seja falta de algo melhor para pensar em fazer; tirar o lixo para a rua, já fiz. Me senti enfiar no cu cada sacola cheia de sujeira.

Mundinho de merda este, viu. Lindo, belo, de risos, mas de merda.


III


As ruas estão cheias hoje. Uma pena.

Dei meia-volta.



Brazil não mais



Ah...

que saudade do Brasil com "s".

Cansei deste Brazil,

dos olhares cruzados –

nós que olhamos para lá do Oceano,

e eles que olham pra cá.


Ah...

que falta me faz

de fato o que não vivi

do samba de raiz

do carnaval de fato

não do espetáculo


Ah...

como eram felizes

e como não sabiam?

Até mesmo eu o sei

que hoje será melhor que amanhã

que hoje não é bem mais assim


Ah...

mas do que adianta sonhar?

mas do que adianta reclamar

da saudade do “s” de samba

do Brasil da simplicidade

do Brasil do sabor


Ah...

mas do que adianta sonhar?

vou é lá sambar

até o Brasil de “s” raiar

até o vento bater daqui pra lá

e não mais

não mais tirar-me de meu lar

e não

não que eu não vá

mas se digo que volto

volto por nosso mar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Corrí




Corrí do medo em me achar esperto demais,
quando o que me resta é apenas ausência de coragem;
fugí do medo.
Corrí.
Peguei casaco,
esquecí de mim.


Não conseguí esperar o primeiro ônibus passar. Tive de sair andando, mesmo sem saber onde estava, por qual rua passava.
Meus olhos estavam turvos por lágrimas que não eram choro, tampouco frio. O vento estava forte, e o inverno não ajudava a minha pressa e personalidade descontinuada. O céu carregado assustava.

Passo,
e passo,
e passo e passo por tanto,
e passo por tantos prédios infestados de gente que mal entendem da própria vida e que tanto insistem em querer saber dos alheios dos andares de cima e dos andares de baixo, e dos andares de quem vem-e-volta de suas vidas.


Venho
vou
e nem tenho que entender.
Só venho, vou, fujo e passo. Sem luta, sem sangue.
Não tento entender. O tempo faz-se necessário, então. Então, o tempo vai.
E eu...
eu nem tento entender.
Eu apenas venho, vou, e quando menos espero dou de cara em algum que me dê algum descanço momentâneo. Não me obrigo ao entender. Apenas é isto, e não como aceitação, não como alguma tipo de lapso de
- Já que é isso, é isso e só.
Não.
Também nem sei dar nome ou expressão engraçada. Apenas corro do medo em me achar esperto demais.
Se driblo a tanto tempo do que ando me esquivando,
não necessito da coragem que me falta; absolutamente, e só, não quero compreender o que me faz faltar. E aí corrí,
e o frio que faz lá fora me fez perceber não ter trago, de novo, um casaco para me cobrir,
e o frio que faz lá fora me fez agradecer esquecer mim.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sinal


Não é que eu não saiba o que quero, eu só não encontrei ainda o caminho para chegar lá. Um tanto piegas, eu sei; nada muito diferente do que tenho feito minha vida inteira:
achado-me sempre
em caminhos não
lógicos. Atrás das
trilhas paralelas
aos caminhos
óbvios. Se é para estar nascido,
ao menos quero o prazer de uma viagem sem destino óbvio. Me devo isso. Me entendo ao compreender isto.
Os caminhos óbvios, os destinos óbvios; tantas 0bviedades animalescas, acidentais. As placas sinalizando e os sinais mostrando quando devo seguir ou ficar estancado no mesmo lugar. Tudo isto torna o passeio tão mecânico, tão impessoal. Te dão o direito à democracia da escolha, e logo apontam qual bifurcação "é o melhor caminho" ou "é a melhor saída".
Pois digo saber qual o melhor caminho, e digo quantas vezes for necessário:
não estou de
saída, ainda.
A hipocrisia da política, do sexo, da vida, me cansam. Mas tudo bem, para alguém que já nasceu sufocado pelas próprias tripas.

Quando olho em volta e vejo todas essas pessoas sem vida, me ocorre se elas - ou ao menos as inteligentes - não pensam o mesmo sobre mim.
Estaria eu sendo tão intolerante em relação à vida comum?
Às vezes acho que sim.
Às vezes sinto uma certa inveja por não me contentar com o comum satisfatório.
Quem sabe um dia...

domingo, 7 de novembro de 2010

Crônicas de meu antigo caderno, parte 1


Encontrei isso em um caderno antigo:


16/07/2009


19:00
"Por mais que eu pense no que escrever, no que dizer, no que fazer, não adianta.
Dormí até não poder mais, e continuei deitado até a televisão não mostrar mais nada que cansaço. Tomei banho longo, mas a alma não se lava com água e sabão;
Tomo água em copo de bar, rezando para que se transforme em vinho barato - que me leve daqui e me traga de volta com dores de cabeça fortes o bastante para me mostrar quão vivo é isto.
Narciso fez bem em amar só a sí. Pode ter se tornado solitário, mas quem não é? Ao menos era feliz, o Narciso"

19:20
"Só queria que parasse de chover"
19:30
"Daqui a pouco estou vendo sapos pelo quintal...
ou quem sabe eu me torne um."

Tão...



Ah...

que tristeza é a dor de quem sente-se aquém à tudo que teima em me deixar... assim.

Ah...

que tristeza é o amor de quem deixa-me além à tudo em me deixar tão... assim.


Sabe, sempre sonhei que tudo pode acontecer. Nada além de nada mais que um bater de palmas à minha pessoa, por ter conseguido tudo que pode me deixar... vão.

Vão todas as pessoas que pouco entendem.

Vão, e olharão, pós depois de tudo, que pode ser eu. Vão é o meu tão... eu.


Ah...

que felicidade é a dor de quem sente-me aquém à tudo que teima em deixar-te...

Ah...

que felicidade é o amor de quem deixa-te além à tudo em te deixar tão...



Sabe, nunca realizei que nada pode acontecer. Tudo além de tudo menos que um ócio de minha pessoa, por ter desconquistado nada que pode me deixar... inteiro.

Inteiro todas as pessoas que muito percebem.

Inteiro, e sentirão, antes de antes de nada, que pode vir a ser eu. Inteiro é o meu tão... eu.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Venderia, se



O sossego não trás apelo, só fragmenta.
Não sei se é comodismo ou felicidade
do cansaço do dia, do cansaço do gozo. Do cansaço do riso, ou do cansaço de si.
Quem disse que não dá trabalho rir não sabe. Se a culpa é tua,
a culpa é minha, se.
Do cansaço de se querer bem, sempre tão bem.
Bem-estar-bem, sempre estou aí! Para o que der e vier,
para o que der e convir! Bem que nada como sentir-se.
Sentir a si, por inteiro. Sentir a tristeza como prêmio.
Ou algum incômodo, alguma irritação. Não sentir-se sorrindo,
não sou vendedor. Sou mim por inteiro,
algo aí, perdido no palheiro. Palheiro aos prantos
que o sossego não trás apelo. Só fragmenta eu,
me diminui a reles vendedor.
Pois não sou!
Sorriso Colgate vale dinheiro; pois meu bem, meu sorriso não vai valer meu bem.
Não é pranto, não é felicidade.
É sorriso,
sorriso de vendedor. Pois não vendo minha alma,
esta tal, que mal tenho. Pois não vendo minha carne,
pois não vendo satisfação. Tampouco felicidade.
Vendo uma triste idéia de felicidade contínua e imutável. Incansável. Aliás: venderia,
se.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tic-Tac



A vida anda, a vida segue, a vida e seus passos pequenos segue, aprende a andar por seus próprio pés, logo logo aprende a correr. Logo logo cansa-se e estaca-se em um banco tranqüilo, sentindo o vento bater e assistindo outras vidas passarem, e irem e acabarem.



Tic-Tac

faziam as sandálias

Tic-Tac

e os passos

Tic-Tac

e mais um passo

Tic-Tac

faziam as sandálias

Tic-

uma sandália

-Tac

outra sandália

Então o silêncio

Então nem passos

Então nem sandálias


A vida anda, segue, corre, cansa. A pilha do relógio, acaba. A calçada termina e lá vem a travessia, e o mesmo a paciência que silencia. E o mesmo os olhos que silenciam.

E a quietude da eternidade,

ou a coragem da vida nova. Ou a dúvida do medo; ou o medo da dúvida.


Tic-Tac

me dizia o relógio

Tic-Tac

me reclamava o relógio

Tic-Tac

me contava a vida

Tic-Tac

Tic-

-Tac

Então o silêncio

Então nem pressa

Então nem cruz nem espada.