segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Vê? És.
Vê
és além do que um simples querer.
És manhã
vês além do que um mero anoitecer.
Anoitece meu coração
e iluminas meus olhos
meus sonhos
meus tontos pensamentos.
Vê
és o que és.
És
para além do que um pequeno passará.
E a todos que ficam
a todos que estão
a todos que vão
um recado:
nada na vida é passageiro
sem eira
sem beira
sem lua cheia
é tudo belo
aos que querem beleza
então
És beleza
és para além do que um tempo
Vê
e verás quê.
Sair da linha de pensamento, parte 1
Eu sempre achei que sair da área comum fazia bem para qualquer situação.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Não. Agora, não.
E quando chega a noite é que eu me pergunto, valeu o dia? Valeu o calor, valeu a chuva? Valeu a tensão dos carros passando e se atravancando em cada canto da cidade?
Agora tudo é tão calmo,
tão terno,
tão ermo.
Me sinto mais ameno. A temperatura, inclusive é mais amena. Meu corpo, inclusive, é mais ameno. São treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, mas podiam ser treze graus e duas horas e dez minutos da tarde, mas as coisas não são as mesmas. É menos gente, é menos essa serpente de congruações da cidade, da imundice.
Não que eu ache que a noite não seja mais suja, porque é. Só quem está andando à essa hora pelas ruas - que eu também ando - só as pessoas que buscam um pouco mais, assim como eu busco.
Mas elas não buscam a família, não buscam o trabalho para sustentar o seu lar, não buscam respeito perante a sociedade, nem buscam o amor pelo resto de sua vida; não sei o que buscam. Também não busco nada. Se eu não encontrar não encontrei, e aí só amanhã à noite.
Talvez seja essa sujeira.
O agora seria uma sujeira?
Seria? Talvez.
Talvez para os que vivem da modéstia de planejar o que querem daqui a dez, quinze anos, mas eu nunca fui assim, não sou assim. Quem sabe um dia eu seja assim. Mas agora, aos vinte anos, treze graus e duas horas e dez minutos da manhã, agora não. Agora tudo que me resta é a polícia passando e eu pensando:
- Quem eles estão procurando?
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Sou de quem
- É da boemía minha vida
e minha vida é da boemía.
- Diga-me o contrário
e aí a surpresa.
- Concordo
sei que concordo.
- Relutas
sei que relutas.
- Mas concordo
sei que concordo.
- É história de amor
da mais longa.
- Das que não tenho
mais o que dizer.
- Das que não tenho
mais o que esconder.
- Não reluto mais
por ser perda de tempo.
- Era rara paixão
não correspondida por mim.
- A boemía é minha
e sou eu da boemía.
- Agora é história de amor
das mais lindas que já vi.
- Somos um do outro
eu e tu somos do mundo.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Mim, mim, mim, não!
Preciso de um lugar de novos lugares, sem mais o lugar comum e a comum vantagem de conhecer os ares de já conheço este lugar. Preciso exatamente é das vantagens de não saber com quem esbarrar na próxima esquina, no próximo trecho de avenida.
Tenho medo dessa insegurança de não poder fazer nada errado e sair falado pela língua de um povo que sei de vista quem são os nomes e endereços, mas que pouco sei das intenções e apreços. Vá que um dia um me ataque, tudo que posso dizer é
- Mas já o ví em algum lugar... - vestido daquele olhar suspeito.
Preciso viajar, e errar à vontade sem me preocupar com o que
ou se vão me
achar. Preciso não só sair deste lugarejo, desta comum idade, preciso me perder para então saciar a minha vontade em me achar.
Achado estou, oras! Estou aqui,
me pego,
me toco,
me espero,
me canso de mim e mim e sempre este mesmo mim que teimo em procurar em algum lugar...
não!
Cansei!
Preciso despir este mim e o deixar na esquina satisfazendo alguém, que não eu, e encontrar o tal eu que satisfaça à mim.
domingo, 21 de novembro de 2010
Pensando bem...
sábado, 20 de novembro de 2010
Crônicas de meu antigo caderno, parte 2
19:28
"O barulho é alto, mas é gostoso.
Chama-se silêncio."
21:xx
"O toque foi de amor. Queria entender por que só ela então não me basta. Quer dizer, então que o que me para não é amor, mas sim paixão?
Ou quem sabe a loucura.
Ou quem sabe a luta por quem ainda não tenho. Vai ver a dor tem seu sabor de quem não se tem.
Agora tudo está tão absurdamente melhor que antes. Rimos o dia inteiro. Me interessa amanhã, se vai continuar.
Tudo isso me deteu de ir chutar um destino, de surpresa. Claro, houve medo. Na realidade só medo. Não estou medindo certo ou errado, medi apenas minha vontade.
Estou decidido a conversar com ele como nunca antes estive. Agora só me fala a oportunidade.
E esta vou moldar ao meu jeito;"
II
15/11/2009
17:+-
"Meu lixo se resume a poeira e flores mortas.
Um pouco daquilo passado ou nunca usado.
Me deixei juntas apenas com pá e luvas.
Não é nojo ou descaso,
não quer dar oportunidade
em errar e deixar espalhar tudo de novo."
III
19/11/2009
00:44
" 'Não sei se endereço isso à tua casa ou à minha'
Comecei mais ou menos assim.
Não foi impulsividade, eu sabia muito bem o que estava fazendo. E fiz. FIZ! FIZ!
Lidei nosso passeio de hoje como despedida dessa fase. Ainda não conversamos.
Hoje. Vai ser inevitável.
Penso ser bom. Penso ser ruim
Não sei; pelo menos encerrei o caso.
FIZ!
E que não me rime com Fim.
IV
01:38
"Nem o trabalho me fez esquecer da conversa que hoje não tivemos, os olhares que não trocamos, os assuntos recorrentes não recontados e rediscutidos.
Eu não sabia o que faz. Você não aparentava ter o que dizer."
V
02:53
"Hoje acordei rezando que me dissessem 'como assim? Andou sonhando, é?'
Tudo me parece um sonho de péssimo gosto.
Não lido bem com perdas, e morro de medo só em pensar que esta pode ser uma; daquelas que revemos só depois de quase um ano e cumprimentamos só por educação.
Me pergunto se vai conseguir me perdoar em situação que me prometi não pedir perdão.
O pior é concordar que nos afastarmos pode realmente lhe fazer bem. Mudar de ares, esse tipo de coisa. Nova gente, novas festas, novas coisas. Todos, em algum momento, precisam de mudanças. Eu precisava, também.
Tentei melhorar,
estraguei.
Como sempre, claro. Como nunca antes; me supero."
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Fui
Fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui, fui... cheguei.
Voltei correndo,
então;
com o coração na mão
sem um tostão.
Fui sem medo e voltei correndo.
Voltei correndo por entender que não há mais muito o que se entender. Hoje em dia torno-se comum sentir saudades de tudo que não se viu, por não termos mais muito o que ver, se não o que nos dizem dizer – histórias de sonhos construídos por sonhos mal resolvidos, apenas, e não só apenas histórias vividas, simples assim’s.
Enquanto ia, imaginava eu ver um mundo inteiro como imaginava; ledo engano jovial: está o mundo onde estão os pés; é o mundo onde estão os olhos. É o mundo, enfim... sem enrolações e suposições fracas de alguém que mal viveu para contar alguma história bem-vinda: insatisfação.
Retoriedades
Olho pela janela e vejo um horizonte que nunca imaginei;
olho para dentro de casa e vejo um dos lares que já sonhei;
olho para o espelho e revejo todos os sonhos;
sonho e vejo todos os horizontes que podem ser meus.
Os meus pés não estão no chão,
e não vejo mal nisso.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Mais um conto de Eliza, parte 1
Eliza que era mulher de verdade. Dizia o que pensava e pensava sem medo, não. Quando a noite nascia ia Eliza, toda toda, pro tal samba que ela tanto gostava. Metia um cigarro na boca, um copo na mão – como se fosse homem – e começava o seu rebolar em que Eva pareceu lhe ensinar – como toda mulher deveria fazer. Mastigava a maçã como Deus nunca imaginou alguém mastigar.
Negava todos negros, brancos, mulatos, na dança. Queria mesmo era fazer as bocas dos marmanjos caírem, e só. Sozinha era mais gostoso, me dizia ela. Não tinha que mandar e nem ser mandada nos passos que dava.
- Sabe, Brah. Acho que nunca conseguí um homem que tivesse poder pra me guiar na dança, na vida... quero mais é ser solta, solteirinha, assim como sempre fui. Tu me conhece.
- Conheço sim.
- Conhece.
Nunca a vi chorar, a não ser quando esqueceu seu dedo mindinho no Box do seu banheiro. Me ligou fula da vida, berrando e gritando e enfiando à força algumas palavras pela linha telefônica. Era ela o tipo de mulher que todo homem gostaria de ter, mas não conseguiria agüentar muito tempo, não Senhor.
- Esta porra... – e assim ia, e ia, e ia nas palavras que em qualquer outra cairia vulgar, mas nela não, nela era o que era.
Era branca com sangue de negra brasileira.
Quando a via sambar me vinha o sonho daquela mulher sambando para mim. Coisa que, quando ela conseguia me fazer descer ao bar, acontecia algumas vezes. Os pés dançando, as pernas, a bunda rebolando com vontade divina, e o que posso dizer dos seios se não mais do que já vi? Engolia em seco. Dava um trago. Tomava um gole. Tudo que podia fazer, afinal.
Apenas não via o sorriso dela este dia. Logo ela... talvez tenha sido só um dia ruim. Talvez tinha sido um dia mal, e só isso.
Talvez tenha sido só mais um dia só.
sábado, 13 de novembro de 2010
São os olhos
I
Ah...
Se todas as coisas à minha volta pudessem falar. O que diriam, que não
- ...
Que não tudo que já se colocaram a me dizer, nada.
Ah...
Se fosse eu menos ansioso,
se fosse eu menos intenso,
se fosse eu menos...
Eu?
Não, não. Eu não teria coragem disso. Logo a única certeza que tenho de minha vida; logo a única inconstância que não me constrange.
II
Quem sabe eu durma, quem sabe eu suma, quem sabe eu até mesmo compre, para matar a sede, um suco de uva. Mas hoje não, hoje quem sabe eu caia em alguma rua e acorde em outra casa e atropele algum cachorro e espere que ele fique bem no céu.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja de novo mais um; ou não.
Quem sabe eu me descubra bonito, interessante, inteligente e elegante. Quem sabe o mundo resolva me dizer o quão bonito eu sou, ou o quão bom sou nas coisas que faço; quem sabe até me dêem, por pura vontade de dar, um prêmio em dinheiro que me valha uma passagem só de ida para qualquer lugar, e que lá me deportem de volta ao meu país de coração.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja eu de novo; ou não.
Quem sabe a vida resolva aprender a voar. Quem sabe a morte resolva doar à mim seu bastão.
Ou não, quem sabe hoje simplesmente não.
E, se não, aí sim.
III
Das coisas que sei, poucas saem muito de meu mundo. O engraçado é eu, ao olhar pela janela, me sentir já imponente, logo quando estou em situação de impotente perante terceiros, quartos, quintos...
O mundo já não é o que era antes; engraçado, logo em um mundo que sempre foi o mesmo. Mas aí percebo: não é o mundo que muda, são os olhos.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
De novo
I
E
de repente
uma agonia me atinge
como trovão. Uma vontade incontrolável
– porém facilmente controlada –
de berrar
meu próprio nome.
Quem sabe eu responda
e me dê resposta.
Raios,
onde está o que
sempre tive e
onde está o que
sempre quis ter?
Onde está
tudo isto que
não sei o que querer?
Onde foi parar
o filho,
o irmão,
o neto,
o sobrinho amado,
o amigo, amante,
não sei;
sei onde
está este que roubou
meu rosto
e meu nome.
Sei onde
estou,
mas não
sei onde
estou;
sei o que
enxergo,
mas entendo?
Me rendo,
me estendo por hoje,
assim como
ontem,
assim como
provavelmente amanhã,
na possibilidade macia
e fácil de minha cama.
Me rendo,
mas só por hoje,
de novo;
prometo,
de novo.
De novo,
engano.
Engano
aos outros?
Aos outros
quem sabe
aos outros
um plano:
deixa
que um dia passa.
II
Sinto no copo mais amor que senti minha vida inteira. Não é vício, não senhor, não pense nisso; longe disso! Talvez seja apenas necessidade de ver a vida como ela realmente é: conturbada, vesga; estampada de luzes que acendem e um dia apagam. Talvez seja falta de algo melhor para pensar em fazer; tirar o lixo para a rua, já fiz. Me senti enfiar no cu cada sacola cheia de sujeira.
Mundinho de merda este, viu. Lindo, belo, de risos, mas de merda.
III
As ruas estão cheias hoje. Uma pena.
Dei meia-volta.
Brazil não mais
Ah...
que saudade do Brasil com "s".
Cansei deste Brazil,
dos olhares cruzados –
nós que olhamos para lá do Oceano,
e eles que olham pra cá.
Ah...
que falta me faz
de fato o que não vivi
do samba de raiz
do carnaval de fato
não do espetáculo
Ah...
como eram felizes
e como não sabiam?
Até mesmo eu o sei
que hoje será melhor que amanhã
que hoje não é bem mais assim
Ah...
mas do que adianta sonhar?
mas do que adianta reclamar
da saudade do “s” de samba
do Brasil da simplicidade
do Brasil do sabor
Ah...
mas do que adianta sonhar?
vou é lá sambar
até o Brasil de “s” raiar
até o vento bater daqui pra lá
e não mais
não mais tirar-me de meu lar
e não
não que eu não vá
mas se digo que volto
volto por nosso mar.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Corrí
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Sinal
domingo, 7 de novembro de 2010
Crônicas de meu antigo caderno, parte 1
"Daqui a pouco estou vendo sapos pelo quintal...
Tão...
Ah...
que tristeza é a dor de quem sente-se aquém à tudo que teima em me deixar... assim.
Ah...
que tristeza é o amor de quem deixa-me além à tudo em me deixar tão... assim.
Sabe, sempre sonhei que tudo pode acontecer. Nada além de nada mais que um bater de palmas à minha pessoa, por ter conseguido tudo que pode me deixar... vão.
Vão todas as pessoas que pouco entendem.
Vão, e olharão, pós depois de tudo, que pode ser eu. Vão é o meu tão... eu.
Ah...
que felicidade é a dor de quem sente-me aquém à tudo que teima em deixar-te...
Ah...
que felicidade é o amor de quem deixa-te além à tudo em te deixar tão...
Sabe, nunca realizei que nada pode acontecer. Tudo além de tudo menos que um ócio de minha pessoa, por ter desconquistado nada que pode me deixar... inteiro.
Inteiro todas as pessoas que muito percebem.
Inteiro, e sentirão, antes de antes de nada, que pode vir a ser eu. Inteiro é o meu tão... eu.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Venderia, se
O sossego não trás apelo, só fragmenta.
Não sei se é comodismo ou felicidade
do cansaço do dia, do cansaço do gozo. Do cansaço do riso, ou do cansaço de si.
Quem disse que não dá trabalho rir não sabe. Se a culpa é tua,
a culpa é minha, se.
Do cansaço de se querer bem, sempre tão bem.
Bem-estar-bem, sempre estou aí! Para o que der e vier,
para o que der e convir! Bem que nada como sentir-se.
Sentir a si, por inteiro. Sentir a tristeza como prêmio.
Ou algum incômodo, alguma irritação. Não sentir-se sorrindo,
não sou vendedor. Sou mim por inteiro,
algo aí, perdido no palheiro. Palheiro aos prantos
que o sossego não trás apelo. Só fragmenta eu,
me diminui a reles vendedor.
Pois não sou!
Sorriso Colgate vale dinheiro; pois meu bem, meu sorriso não vai valer meu bem.
Não é pranto, não é felicidade.
É sorriso,
sorriso de vendedor. Pois não vendo minha alma,
esta tal, que mal tenho. Pois não vendo minha carne,
pois não vendo satisfação. Tampouco felicidade.
Vendo uma triste idéia de felicidade contínua e imutável. Incansável. Aliás: venderia,
se.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Tic-Tac
A vida anda, a vida segue, a vida e seus passos pequenos segue, aprende a andar por seus próprio pés, logo logo aprende a correr. Logo logo cansa-se e estaca-se em um banco tranqüilo, sentindo o vento bater e assistindo outras vidas passarem, e irem e acabarem.
Tic-Tac
faziam as sandálias
Tic-Tac
e os passos
Tic-Tac
e mais um passo
Tic-Tac
faziam as sandálias
Tic-
uma sandália
-Tac
outra sandália
Então o silêncio
Então nem passos
Então nem sandálias
A vida anda, segue, corre, cansa. A pilha do relógio, acaba. A calçada termina e lá vem a travessia, e o mesmo a paciência que silencia. E o mesmo os olhos que silenciam.
E a quietude da eternidade,
ou a coragem da vida nova. Ou a dúvida do medo; ou o medo da dúvida.
Tic-Tac
me dizia o relógio
Tic-Tac
me reclamava o relógio
Tic-Tac
me contava a vida
Tic-Tac
Tic-
-Tac
Então o silêncio
Então nem pressa
Então nem cruz nem espada.