segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma nota sobre o girar.


Nova vida
roda, vira
e o mundo gira.

Ah...!
O mundo girou
(des)entortou
mas não a linha.

Muda vida
sem mais volta
seja da ida.

Ah...!
O mundo estranhou
se espantou
mas gostou.

E a vida me caiu como uma luva em dia de vento forte e chuva. E a vida tomou rumo como eu nunca antes havia visto ela dar-se ao direito.
E a vida falou
e disse:












"..., e isso é segredo".

terça-feira, 10 de maio de 2011

Da Fotografia do Tempo


Fotografias de relógios sempre me cativaram; ainda mais se mistas ao Preto e Branco. Há algo nelas que poderia chamar de "ignorante". Onde nelas ignora-se a cor do cotidiano e o insistente passar do tempo.

Não importa o quão clichê estas grafias possam soar ao olhos; o clichê neste caso passa a ser um tenro desespero humano:

Por que tudo precisa ser tão colorido?

Por que o tempo precisa passar tão rápido?

Ao mesmo tempo a união de tempo e Preto-e-Branco mostra também a angústia da nostalgia.

Ah...

aquelas horas eram tão boas.

Estas já não.

Torno-me espectador dolorido do que vem e vai numa espécie de incessante vontade de mudanças.

Mas digo que não:

hoje se procuro a mudança é para que o ponteiro gire o bastante para que volte àquele tempo que me pareceu tão lógico e óbvio a necessidade da eterna lembrança da fotografia.

Da estrutura


Eu
bem que já tentei
tirar as roupas pretas
e dizer no escuro
Não.

Viu?
o mundo
já deu mais voltas que as minhas
fantasiadas memórias
que agora...

Eu
pouco sei
do que antes era certeza
e já nem sei
do banal.

Viu?
eu bem que tentei
tirar as roupas pretas
e dizer no escuro
Adeus.

Eu
bem que quis saber mais
do que antes nós juntos sabíamos
sobre o céu,
o chão...

e agora vai entender
o que eu quis dizer.
Adeus?
Não.

Não.
Adeus?
O que eu quis dizer
e agora vai entender
como

Eu
fui fraquejar
e te deixar levar embora
meus olhos
?

Viu?
Eu bem que sabia
que ao menos o que eu
deveria ter te dito
era:

Eu
não sabia
o quanto eu poderia perder
alinhadamente
a estrutura.

E,
por favor,
fim.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma nota para Baudelaire em defesa da Fotografia como Arte

I

Baudelaire detinha sua opinião sobre o conceito da arte no pequeno diagrama
Fotografia – Indústria
Pintura – Arte

Exaltava em suas longas cartas o dito empobrecimento do gênio artístico, ocorrido, a seu ver, pela mecanização (e, claro, reprodutibilidade) da criação de um objeto de arte a partir da fotografia. Porém, esqucia-se ele de um relevante detalhe, muito bem esclarecido em um trecho da obra “Fotografia & Sociedade”,de Gisèle Freund, no qual aduz:

“Na sua origem e evolução, todas as formas de arte revelam um processo idêntico ao desenvolvimento interno das formas sociais”.

II

Desde que o homem é homem, a arte está impregnada em nossa forma de expressar o modo como vemos o mundo. Existem relatos artísticos, datados da época pré-histórica, de toda a evolução do que seria o embrião de nossa atual estrutura social. Partindo de desenhos pintados nas paredes das cavernas – como o de animais representando as caçadas, por exemplo – são nos revelados o início de uma espécie de civilização, também sendo mostradas a partir de pinturas rupestres como era seu convívio, suas moradas e algumas de suas ferramentas utilizadas na lavoura – e até mesmo a apresentação do que seriam seus ideais de beleza, como as estatuetas de Vênus.
Apesar da gritante distância de datas, podemos verificar que o mesmo processo, de o homem expressar a sua visão por meio da arte, ocorreu em nossa cultura moderna -essa do cotidiano frenético resultante da Revolução Industrial – nas imagens em papel fotográfico.
Com o fim do Feudalismo e o nascimento do que viria a ser o Sistema Capitalista de nosso mundo atual – o crescimento das grandes cidades e a exacerbação em torno das descobertas tecnológicas – surge também um novo modo de arte.

III

O mundo estava se transformando. As formas de entretenimento prometiam novidades, a rotina prometia não ser mais a mesma, e as revoluções idealistas (dentre as mais marcantes e de conseqüência para os dias de hoje, os movimentos feministas) prometiam uma nova forma de organização familiar; logo as formas de expressão do homem também tomaram o rumo das promessas à vapor: queríamos todos, ou a grande maioria, o futuro.
Não é de se espantar, que desde a época de Aristóteles já se pesquisavam formas de reprodução de imagens provenientes da passagem de luz. Mas foi com Niépce que o rumo das descobertas tomou forma, tirando ele, no verão de 1826, a primeira fotografia.

IV

Existiu, portanto, um caminho natural das novas artes visuais, onde, conforme se posicionou Picasso, a fotografia não tomou o lugar da pintura, mas sim trouxe a liberdade aos pintores. Posso também culpar sem peso algum na consciência a fotografia por nossos grandes filmes, onde da imagem fixa provieram cenas em movimento, mais uma vez não havendo substituição, mas sim o crescimento, amadurecimento e mais argumento aos fotógrafos.

A arte pode, de fato, ter tomado um rumo mais tecnológico, mas o que não seguiu esta vertente? O mesmo aconteceu com a medicina, por exemplo. Ou ainda, sendo o mais prático e simplista possível, na cozinha: onde panelas de inox feitas em indústrias, por máquinas, substituíram as panelas de barro feitas à mão – que tampouco perderam seu valor por seu gosto e tempero peculiar.
Da mesma forma é a arte: o pictórico permanece pictórico, a fotografia permanece fotografia – independente da vertente, se analógico, se digital, se manipulada -, o cinema permanece cinema – de duas ou três dimensões, e a próxima arte (e por que não dizer “próximo passo?”) continuará sendo a próxima arte.

“Nada muda, adeus velho mundo”.

Minha Fotografia é do Samba


Como não dizer que a Fotografia e o Samba não estão próximos quando ambos me fazem arrepiar e querer ir para a rua para me fazer contar o que vejo?

Tento não fotografar, apenas. Componho. Tento não compor, tão somente. Também canto pedra em lago, e mostro o pescador de tarrafa sozinho.

Te fiz sozinho, pescador.

Te cantei sorrindo.

Te fiz só tu, pescador.

Te quis sozinho.

Os pontos áureos viram escalas, os elementos, notas. Conto a imagem e pode virar batuque de escola; a imagem que vira também história. A história que é música de canto de ouvido ao pescador que fiz sozinho, sorrindo, de tarrafa na mão e eu de câmera nos dedos.

É samba de canto de ouvido, pescador.

É batuque de obiturador.

É cantoria pra tu, pescador.

É solidão de dois.

O preto e branco das tuas rugas do braço me lembram Cartola em sua melancolia, quando ele diz a Vida ser um Moinho.

Chora os pés, pescador.

Chora a dança da eternidade.

Chora tua onipotência, pescador.

Chora a liberdade.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ainda estou esperando.


Sou farol onde és chuva perante um mar seco de terra de sertão.
Mas olha lá!
O sertão vai virar mar!
É o que dizem.

Lembras quando éramos como essa foto?
Apesar do preto e branco, calor.
Apesar da aparente solidão, não.
É o que diziam.

Veio a chuva e sequei.
Dizem.

Digo que já nem sei o que dizer.
Mas penso demasiado.