sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Em meio a tantos como nós



A chuva caía e nada mais importava. Tudo que podia ouvir era o som que vinha lá de muito longe e do som que provinha das vozes insanas ao meu lado. Gritavam coisas que eu não podia entender e eu também gritava tudo o que eu gostaria de cantar e que ninguém mais podia entender.

Eu prestava atenção nas mãos que se encontravam por uma questão única e sua, somente sua. As luzes que iluminavam a todos nós também se encontravam às gotas de chuva que se encostavam em nossos rostos como que benção divina, que nos lavavam o suor do cansaço prazeroso do prazer de estarmos todos nós ali, e somente ali, sozinhos em meio à multidão solitária.

Pulávamos todos, cantávamos todos, esquecíamos todos de nossas vidinhas sacais; estávamos todos unidos, esquecendo-nos todos juntos de tudo mais que nos restava preocupar. A casa, a família, os amores passados e presentes e os futuros que nos esperavam; nada mais. Éramos todos um, únicos de nossas preocupações e ignorantes de nossas responsabilidades. A água que caia e nos beijava pelo corpo tornava a nós nada mais que grãos iguais a todos os outros grãos no universo, e nada, nada mais.

Éramos tudo que queríamos ser:

nada mais que um ponto que formava a leve e linda grossa multidão de quem via,

nada mais que nossa alegria, e as dores que nos perseguia.


A chuva caía e nada mais importava, a não ser a música e nós mesmos em meio à multidão de solitários cansados, em meio a tantos como nós.

Um comentário:

  1. Curti a foto, curti o texto.
    Muito bons!
    Tenho que lembrar de linkar teu blog no meu :}

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