quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Todos passam


Todos passam.
Seus rostos nêutros,
sem medo, sem ternura, sem coragem
nem maquiagem.
Passam, não deixam rastros. A má vontade,
ou a boa vontade,
apenas não passam de falta de vontade. De falta de descanço.
Cansa.
Estão cansados, seus olhos quase fechados.
Seus passos: cansados.
Todos passam.
A vida passa.
É a vida.

Todos passam,
sem vida. Exaustos,
estão cansados do dia,
estão cansados da vida,
estão sorrindo. Estão exaustos,
e o dia, enfim, termina.
Os sorrisos são tristes, estão tristes.
Ou apenas cansados, e cansados seguem ao lar.
Lar do canto do amor sem dor, sem pranto, do canto
insassiado. A comida está sem sal.
Até a cerveja gelada lhe faz mal. Que mal?
É o tal.

Mas todos ainda passam, não param de passar
até que eu mesmo não pare de passar
pelos passantes da rua da qual o ângulo
me parece tão distante.
Da rua da qual a normalidade é séria
e os risonhos são loucos!
Mas a normalidade está doente,
cansada.
Os insanos são normais que apenas deixaram
a desejar e desejaram o indesejável. Agora
apenas sorriem para afastar os maus agouros
da vida.
Os normais: insanos.
Ou apenas estão cansados.

Eles pararam de passar

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