segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Do Grito perante o desejo pelo Silêncio.

Aos que não respeitam o silêncio
quando quer o silêncio
silêncio
e não esta euforia mal calculada
e talvez um dia uma conversa tranquila
e talvez um dia uma opinião coesa
e talvez um dia um desabafar completo:

Não basta ser forte para si.
Deve-se ser forte para o mundo insistente.
Deve-se argumentar ao mundo sobre
a força
a paciência
a capacidade de manter-se forte.



Mas isto não basta.
Não basta
mostrar-se forte.
Então será que temos que parecer vulneráveis demais?
Então será que com nossa força excluímos o próximo de sua capacidade de querer mostrar-se forte também?
Então parecerei vulnerável.
Serei o mais fraco entre os fracos.
Direi
Repetirei
Transgredirei
as barreiras da força e me mostrarei fraco.
Seria isso o bastante?
Digo que não.
Aí te achariam fraco, fraco demais.
Desmerecedor
Impotente
ou apenas Oportunista.
Aí pensarei:
- Mas então a culpa é minha?
Afinal, sou eu quem não sabe medir?
Sou eu que não sei me mostrar como devo me mostrar?
Sou eu o problema?

Então o mundo conseguiria
o que parece ser seu único objetivo:
entregar-me a loucura
nas mãos
como luvas.
Luvas confortáveis.
Aí sim,
aí então eu poderia ser o que quisesse.
Ao que parece.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Urticária


- É que me irritas!
Me irritas como ninguém faz!
Ainda coloco meu dedo em tua cara
e na urgência de animal ferido
lanço feroz tudo que se diz
na emergência de homem em caos!

- É que me irritas!
És urticária para a alma!
Coço,
coço,
coço,
mas da pele só me causa ainda mais irritação!

- É que me irritas!
Me irritas como ninguém consegue!
Te cala,
te castra,
te vai!
Mas volta.

- É que me irritas!
És como aquelas despedidas chatas!
Daquelas que a gente faz por ter que fazer
e que se desloca por ter que se deslocar
e que se diz adeus por ter que dizer
e que se quer ter de volta por ter de querer.

- É que me irritas!
E isto me irrita imensamente!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Do pecado


Morder o fruto.
Quem nunca provou, nunca entenderá a razão de estarmos onde estamos
agora
sem arrependimentos,
não,
de modo algum.
Antes o sabor amargo
que dissabor algum.

O pecado é muito superior à nobreza
e o falso moralista diria o quanto estou errado
o moralista apenas consentiria, e diria
o problema é todo seu.

O pecado,
perdão,
é muito mais.
As unhas na carne,
sem perdão;

A maçã,
afinal de contas,
já estava mordida quando a encontrei.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Do futuro


Cada vez que me pedem para olhar pelo meu futuro, duvido ainda mais deles.

Hoje estava andando pela Beira-Mar em um fim de tarde lindíssimo, daqueles que a gente só vê por aquelas bandas. O clima ameno, todos aproveitando o clima de férias da vida e do inverno; aí que me cruza aceledaradissimo um lindo carro prateado ignorando o sinal vermelho que nada demorou a atingir uma moto, fazendo a garota das duas-rodas escarrar o chão da boca.

Ela ficou apenas machucada, mas e se não? Aí vão-se os planos, os sonhos, e tudo que se sacrificou por eles, em uma daquelas nossas tentativas desesperadas de um futuro certo,

correto,

coeso.

Não levo a vida tão a sério, sei disso; agradeço o dia após o outro, e ponto. E quanto ao futuro?

Ele virá, se vier; caso venha, a vida segue como deve ser:

sem exasperar, sem deixar de fazer o que se deve, óbvio, mas sem viseiras de cavalo manso que os impede de olhar para os lados.

O entorno entorno em mim de vez em sempre,

a cada quadro,

a cada gesto;

não conheço uma vida

que não seja essa:

a da divina experiência

ainda que vil

descontinuidade.

O único eterno que consigo enxergar é a saudade de tudo que não fiz, de tudo que não tive, de tudo que se foi; o que fiz, o que tive, o que ficou, são as alegrias de consolo aos descontentamentos.

Ainda que muito,

é muito pouco.

Ainda é muito pouco.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Artigo O Poder do Preto e Branco




O Poder do Preto-e-Branco
Por Yuri Brah
Revisão: Mariana Fiorentini

Tentar explicar a paixão de alguns pelo preto-e-branco é como querer explicar uma paixão qualquer: é impossível tomar o viés racional e lógico, ainda que haja estudos acerca de cadeias químicas como argumentos de consolo aos mais inquietos.

Diante de minhas pesquisas quanto a estas (não) cores, me deparei com as mais variadas opiniões. Fui de simplesmente o que cada cor representava nas diferentes culturas, a até o que grandes fotógrafos tinham a dizer sobre o assunto. Mas ainda assim, barreiras de dúvidas não foram quebradas, como o porquê do preto-e-branco infligir tanto dano em nossa opinião ao vê-lo, especialmente em projetos documentais? Logo estes que justamente deveriam retratar a realidade que enxergamos – e aí lhe pergunto, enxergamos? – em cores.

Seria pela estética da tradição? Ou seja: será por apenas receio por sair dos padrões daqueles grandes trabalhos de Arbus à Doisneau?

Mas não, esta seria uma explicação mesquinha e simplista demais.

Ou então: seria pela nostalgia que nos traz? A sensação de ver o hoje já como objeto do passado, já o agora como parte da história? Quem sabe… ainda que uma reflexão pouca para mim. É-me uma verdade, ainda que escassa. É pouco.

II

Assim como os artistas impressionistas, Da Vinci não qualificava o Branco e o Preto como cores, e Kandinsky antes de qualquer estudo psicanalítico em torno do assunto já afirmava:

“Não é sem razão que o branco é o ornamento da alegria e da pureza sem mancha, e o preto o do luto, da aflição profunda, símbolo da morte”.

Dentro de várias culturas, o Branco representa a inocência, a paz, e até mesmo quando associado à morte, é apenas uma referência ao recomeço de um ciclo ou, melhor dizendo, ao renascimento, enquanto o Preto é, e sempre foi (em uma idéia generalizada) um indicativo de oposição a tudo que o Branco diz ser. Aproximando-nos um pouco mais de nosso cotidiano: nos grandes duelos entre o bem e o mal das ficções, são sempre estes dois os grandes extremos de caráter – é o Branco Luz e o Preto Sombras, e aí podemos lembrar da famosa técnica do Chiaroscuro, aperfeiçoada e mais lembrada pelas obras do já citado Da Vinci, onde utilizava-se apenas do jogo entre o claro e escuro, sem necessidades de linhas de contorno para compor uma imagem.

O que me intrigou diante de tudo isto foi o fato de tanta discordância estar presente em uma única foto PB, ainda mais, quando seu único acompanhante é a gama de variações de cinza, uma cor compreendida como neutra, como se fosse uma linha de batalha, sem escolher lados.

Tudo ali está interligado como uma regra de causa e efeito, afinal, é como dizem:

“onde há fumaça, há fogo”, “onde tem passarinho, tem ninho”, ou “onde há luz, há trevas”.

O Branco não poderia sobreviver solo, assim como o Preto. Equivalem-se então ambos de sua existência mútua, assim como dentro de cada ser reside Yin e Yang, o certo e o errado, a cruz e a espada.

III

Dentro de toda esta discussão, de fato encontrei uma resposta, mas também uma nova questão: a explicação me convenceu os opostos realmente me atraem, mas não é a ideologia desta batalha o que me impressiona, e sim simplesmente a sensação que as imagens em PB me trazem.

Ansel Adams, logo na primeira frase de sua introdução à obra “A Cópia”, diz:

“A fotografia é mais do que um meio de retratar a realidade, ela é uma arte.”

Porém, além de sua contradição ao que diziam os que iam contra esta idéia, a frase acima esconde algo muito interessante, relativo ao que disse no primeiro capítulo disto:

lembrando que na época desta publicação as cores ainda não haviam encontrado o papel fotográfico, ela ainda era sim um meio de retratar a realidade, concordemos. Ela ainda é utilizada em PB para este mesmo fim, concordemos. Acontece que isto não mudou, e não por apenas uma questão de custos para as publicações impressas como os jornais, por exemplo. Ao contrário da fotografia em cores, a fotografia preto-e-branco não nos informa medidas de temperatura, não nos informa a cor das unhas sendo usada pela mulher sedutora.

Bem, em uma atividade extra de minha aula de fotografia documental, ministrada pelo professor Macelo Juchen, recebemos como convidado para um debate, o fotógrafo, e também professor, Claudio Brandão, e eis que ele no meio de nossa conversa disse a frase que destrinchou todo o caos que minha cabeça gerou sobre este tema:

“a cor nos distrai.”

Bingo! Sim, meus caros, era exatamente isto que eu estava procurando!

IV

Nada como acordar com um belo céu azul, ou ir à rua e deparar-se com aquele incrível entardecer dourado antes de encontrar com a noite vestindo uma entorpecente lua alaranjada. E como estudante e futuro fotógrafo, nunca deixarei de enxergar estes momentos como belas imagens.

Olhos verdes continuarão sendo uma grande atração.

A cor da pele continuará me dando diferentes interpretações.

Acontece que embaixo daquele céu, algo que tu queres dizer que está acontecendo pode ser julgado erroneamente. Os belos olhos verdes podem tornar-se apenas belos olhos, te fazendo esquecer-se de reparar o olhar com que te olham, e te pergunto: o que aquela bela pele bronzeada está escondendo do corpo?

Acabamos esperando que a cor das unhas vermelhas nos envie a mensagem, quando na realidade a sua mão inteira caminha para outra direção. Enquanto a cor está querendo paixão, a ação congelada daquele momento fotográfico – onde uma mão repousa sobre a outra – é da mais genuína solidão.

Em uma era onde tudo pode (e quase esperamos que Deva) significar qualquer coisa (ou o que o receptor quiser ler e perceber daquilo que estamos dizendo), esquecemo-nos de pontuar nossas reais intenções, e esta é a maior aproximação da realidade que podemos empregar e impregnar uma fotografia que deseja discutir algo: um teto e um chão; a verdade nua, crua, sem rodeios;

a verdade preto no branco.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desfaz.


Não lhe dou Adeus
Não te entregarei ao abstrato
Meu cansaço é menor
que toda dor

Não sou das despedidas
Não vou à lugar algum
E tu não vens
se isto não te convém

Desfaz o que tu desfez
faz da fumaça,
fogo
das cinzas,
estrelas
da ressaca,
euforia
desta falsa alegria,
alegria, alegria!

Não sou de mentir
Não creio no pra sempre
carnal presença

Não sou da verdade pura
Nunca pensei ter feito isto para teu bem
onde a ironia reside
em um dia
ter te chamado
meu bem
Aonde ir agora,
além?
Não.
À quem.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Do que fazer depois


Precisar de mais, e mais, e sempre mais; só isto já tem me levado ao cansaço. Percebi-me fraco diante da ansiedade de querer tudo - que tem me dado de troco nada - e do anseio por um novo mundo - que trancou-me aqui neste e jogou as chaves fora.
Aí me entreguei ao marasmo, e bloquear o expressar tem me sido um fardo. Mas pior foi ter esquecido como voltar àquele que tinha tanto orgulho.
Tornei-me um absoluto clichê, um personagem de livro infantil; quero proteger a rosa, perseguir o coelho, encontrar o mágico, e ainda ter tempo de brincar no quintal.
Quem diria...
te perder não foi a pior parte.
A pior parte foi te superar e me perguntar:
- E agora?
E não obter qualquer resposta.
Quer dizer,
exceto o silêncio calmo dos dias seguintes,
exceto o silêncio exasperado dos dias anteriores,
exceto o silêncio desencontrado
entre palavras desencontradas
do agora - que só sabe soltar fumaça esperando encontrar algum vestígio de fogo.

É triste ter que dar o braço a torcer e dizer que a poesia da derrota sugere-se muito mais bela que a da vitória.
A rosa morreu,
o coelho escapou,
o mágico foi apenas um sonho,
e já não estou mais para brincadeiras.
E o irônico é eu ainda assim me sentir o vitorioso.