quinta-feira, 11 de novembro de 2010

De novo



I



E

de repente

uma agonia me atinge

como trovão. Uma vontade incontrolável

– porém facilmente controlada –

de berrar

meu próprio nome.

Quem sabe eu responda

e me dê resposta.

Raios,

onde está o que

sempre tive e

onde está o que

sempre quis ter?

Onde está

tudo isto que

não sei o que querer?

Onde foi parar

o filho,

o irmão,

o neto,

o sobrinho amado,

o amigo, amante,

não sei;

sei onde

está este que roubou

meu rosto

e meu nome.

Sei onde

estou,

mas não

sei onde

estou;

sei o que

enxergo,

mas entendo?

Me rendo,

me estendo por hoje,

assim como

ontem,

assim como

provavelmente amanhã,

na possibilidade macia

e fácil de minha cama.

Me rendo,

mas só por hoje,

de novo;

prometo,

de novo.

De novo,

engano.

Engano

aos outros?

Aos outros

quem sabe

aos outros

um plano:

deixa

que um dia passa.


II


Sinto no copo mais amor que senti minha vida inteira. Não é vício, não senhor, não pense nisso; longe disso! Talvez seja apenas necessidade de ver a vida como ela realmente é: conturbada, vesga; estampada de luzes que acendem e um dia apagam. Talvez seja falta de algo melhor para pensar em fazer; tirar o lixo para a rua, já fiz. Me senti enfiar no cu cada sacola cheia de sujeira.

Mundinho de merda este, viu. Lindo, belo, de risos, mas de merda.


III


As ruas estão cheias hoje. Uma pena.

Dei meia-volta.



Um comentário:

  1. Este é perfeito também! Você escreve muito bem. Gostei dos textos e do espaço.

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