sábado, 13 de novembro de 2010

São os olhos



I



Ah...

Se todas as coisas à minha volta pudessem falar. O que diriam, que não

- ...

Que não tudo que já se colocaram a me dizer, nada.

Ah...

Se fosse eu menos ansioso,

se fosse eu menos intenso,

se fosse eu menos...

Eu?

Não, não. Eu não teria coragem disso. Logo a única certeza que tenho de minha vida; logo a única inconstância que não me constrange.


II


Quem sabe eu durma, quem sabe eu suma, quem sabe eu até mesmo compre, para matar a sede, um suco de uva. Mas hoje não, hoje quem sabe eu caia em alguma rua e acorde em outra casa e atropele algum cachorro e espere que ele fique bem no céu.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja de novo mais um; ou não.

Quem sabe eu me descubra bonito, interessante, inteligente e elegante. Quem sabe o mundo resolva me dizer o quão bonito eu sou, ou o quão bom sou nas coisas que faço; quem sabe até me dêem, por pura vontade de dar, um prêmio em dinheiro que me valha uma passagem só de ida para qualquer lugar, e que lá me deportem de volta ao meu país de coração.
Ou não, quem sabe hoje eu só seja eu de novo; ou não.

Quem sabe a vida resolva aprender a voar. Quem sabe a morte resolva doar à mim seu bastão.
Ou não, quem sabe hoje simplesmente não.
E, se não, aí sim.


III


Das coisas que sei, poucas saem muito de meu mundo. O engraçado é eu, ao olhar pela janela, me sentir já imponente, logo quando estou em situação de impotente perante terceiros, quartos, quintos...

O mundo já não é o que era antes; engraçado, logo em um mundo que sempre foi o mesmo. Mas aí percebo: não é o mundo que muda, são os olhos.

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