quarta-feira, 6 de outubro de 2010


Que dia...! Que dia cinza. Que dia... Que dia “meio”. Estou meio acordada, tomei o café-da-manhã pela metade. Estou meio com pressa, pois estou meio atrasada; mas tanto faz, estou meio que nem aí mais. Estou, inclusive, meio sentada neste ônibus meio lotado, onde um cara que, por exceção de regra, está ocupando quase que o banco por inteiro, deixando-me à meia bunda do chão – por não querer dizer nádegas, nádega é uma palavra meio esquisita.
Deixei meu trabalho da faculdade pela metade ontem, e hoje meio que não tive tempo para terminar. Deixei minha cama meio desarrumada, pois meio que estava sem tempo para arrumar. Deixei minha mesa no escritório meio desorganizada, pois me foi conferida tanta coisa para fazer que meio que minha última preocupação era dar atenção ao meio onde eu estava.
Deixei-me pela metade ontem, quando te disse Adeus. Deixei-me pela metade ontem, quando te disse o que te disse.
O sol descendo as árvores, a luz de cor de pôr de sol nos nossos rostos. O meu molhado, o seu raivoso, desapontado. O irônico é eu não ter chorado, mas nunca suei tanto em minha vida. Há pouco tempo estávamos rindo como se o mundo estivesse acabando, agora o mundo estava realmente desabando e tudo o que eu podia fazer era insistir em continuar falando. Disse tudo o que havia ter dito aos poucos. Os segredos, as máscaras. Nunca senti tanto medo de uma resposta, e nunca uma resposta havia me cortado tanto as entranhas como as ditas. Eu sabia que isso aconteceria, eu te conhecia muito bem para fingir não saber. Acho que por isso o medo.

O ônibus, em uma parada brusca, abriu suas portas e todos começaram a sair. Nem havia reparado que eu já estava no ponto final. Trabalho, doce trabalho seria o de hoje. Nem os óculos escuros ajudavam a esconder meu rosto de morri e não enterraram. Corri para pegar o segundo ônibus e, como se não fosse nada, já estava sentada na minha cadeira, atendendo meus deveres.
Quando dei por mim estava chorando revendo fotografias antigas nossas. Os sorrisos nas festas, as poses espertas. O tempo hoje passava tão rápido quanto o tempo que passou desde que nos conhecemos. As lembranças me disseram isso, as fotos descordavam, as fotos coloriam o tempo em tons suaves, calmos. As lembranças me diziam que já estávamos no dia em que estávamos, me mostrava o passado e me perguntava como seria o futuro. E depois de ontem... Que dia...! Que dia cinza, este.

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