quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Vir, Ir



I



As luzes da cidade cegavam meus olhos cansados. A noite havia sido comprida e o sono curto. De novo as estrelas escondiam-se. Agora, o céu seco e frio.


As luzes da cidade acompanhavam-me mais que minha consciência. Já enxergava como um míope enxerga. Decidi ir ao topo de qualquer lugar que me colocasse visão de horizonte expandido, e lá estava eu na passarela, acima dos carros, das pessoas e de algumas construções. Coloquei-me acima de mim, enfim.


Que bela imagem é o formigueiro humano, construído de neon e sonhos, construído por mãos e... raios...! Que mais pode o homem inventar?!


Posso voar, posso andar mais rápido que qualquer animal na terra, posso mergulhar nas profundezas de qualquer oceano.


...


Que mais pode o homem inventar...?


A cura para as doenças da Alma, quem sabe;


Quem sabe a plenitude. Eis uma bela invenção em mundo onde nada é pleno, em mundo que só existe por criatividade humana e imaginação divina.



II



As luzes da cidade apenas não cegavam meu passado.


Tão grande diferença escrita;


Tão grande diferença sentida.


Vir,


Ir,


Palavras tão ironicamente próximas, deleitando-se de sentidos absurdamente opostos, se postados onde estou. Sei do fator intrínseco dado ao chegar e ao partir, mas nada é tão inseparável se visto apenas de um lado da história. E quem conta a história sou eu, afinal, não sou? E não posso ser purista ao pensar em levar em consideração mais de uma viagem, que não a minha e de onde passo com meus olhares. O que se foi, se chegou à algum lugar não sei, foi-se de mim e é tudo que me restou saber.


Tão grande diferença escrita;


Tão grande diferença sentida.



III



O vento frio me bastou para descer ao nível em que estavam todos os igualmente cansados, os igualmente de olhos fechados.


...


Que mais pode o homem inventar...?


Nada. Por agora tudo que preciso é de minha cama.

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