segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma nota para Baudelaire em defesa da Fotografia como Arte

I

Baudelaire detinha sua opinião sobre o conceito da arte no pequeno diagrama
Fotografia – Indústria
Pintura – Arte

Exaltava em suas longas cartas o dito empobrecimento do gênio artístico, ocorrido, a seu ver, pela mecanização (e, claro, reprodutibilidade) da criação de um objeto de arte a partir da fotografia. Porém, esqucia-se ele de um relevante detalhe, muito bem esclarecido em um trecho da obra “Fotografia & Sociedade”,de Gisèle Freund, no qual aduz:

“Na sua origem e evolução, todas as formas de arte revelam um processo idêntico ao desenvolvimento interno das formas sociais”.

II

Desde que o homem é homem, a arte está impregnada em nossa forma de expressar o modo como vemos o mundo. Existem relatos artísticos, datados da época pré-histórica, de toda a evolução do que seria o embrião de nossa atual estrutura social. Partindo de desenhos pintados nas paredes das cavernas – como o de animais representando as caçadas, por exemplo – são nos revelados o início de uma espécie de civilização, também sendo mostradas a partir de pinturas rupestres como era seu convívio, suas moradas e algumas de suas ferramentas utilizadas na lavoura – e até mesmo a apresentação do que seriam seus ideais de beleza, como as estatuetas de Vênus.
Apesar da gritante distância de datas, podemos verificar que o mesmo processo, de o homem expressar a sua visão por meio da arte, ocorreu em nossa cultura moderna -essa do cotidiano frenético resultante da Revolução Industrial – nas imagens em papel fotográfico.
Com o fim do Feudalismo e o nascimento do que viria a ser o Sistema Capitalista de nosso mundo atual – o crescimento das grandes cidades e a exacerbação em torno das descobertas tecnológicas – surge também um novo modo de arte.

III

O mundo estava se transformando. As formas de entretenimento prometiam novidades, a rotina prometia não ser mais a mesma, e as revoluções idealistas (dentre as mais marcantes e de conseqüência para os dias de hoje, os movimentos feministas) prometiam uma nova forma de organização familiar; logo as formas de expressão do homem também tomaram o rumo das promessas à vapor: queríamos todos, ou a grande maioria, o futuro.
Não é de se espantar, que desde a época de Aristóteles já se pesquisavam formas de reprodução de imagens provenientes da passagem de luz. Mas foi com Niépce que o rumo das descobertas tomou forma, tirando ele, no verão de 1826, a primeira fotografia.

IV

Existiu, portanto, um caminho natural das novas artes visuais, onde, conforme se posicionou Picasso, a fotografia não tomou o lugar da pintura, mas sim trouxe a liberdade aos pintores. Posso também culpar sem peso algum na consciência a fotografia por nossos grandes filmes, onde da imagem fixa provieram cenas em movimento, mais uma vez não havendo substituição, mas sim o crescimento, amadurecimento e mais argumento aos fotógrafos.

A arte pode, de fato, ter tomado um rumo mais tecnológico, mas o que não seguiu esta vertente? O mesmo aconteceu com a medicina, por exemplo. Ou ainda, sendo o mais prático e simplista possível, na cozinha: onde panelas de inox feitas em indústrias, por máquinas, substituíram as panelas de barro feitas à mão – que tampouco perderam seu valor por seu gosto e tempero peculiar.
Da mesma forma é a arte: o pictórico permanece pictórico, a fotografia permanece fotografia – independente da vertente, se analógico, se digital, se manipulada -, o cinema permanece cinema – de duas ou três dimensões, e a próxima arte (e por que não dizer “próximo passo?”) continuará sendo a próxima arte.

“Nada muda, adeus velho mundo”.

Um comentário:

  1. As artes acompanham os tempos...
    é um erro taxá-las de não-arte por serem tecnológicas inventivas pseudo-modernas.

    E os homens acpmpanham as artes.

    Até.
    bjo, bjo, bjo...

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